90 minutos que pareceram uma eternidade

Numa razoavelmente fria noite de quarta-feira, a Arena Corinthians recebeu seu primeiro duelo continental. A fase é conhecida - e motivo de trauma - dos corinthianos, a Pré-Libertadores. Sim, a mesma Pré-Libertadores do Tolima, em 2011. Naquela oportunidade, o técnico era o mesmo Tite, e Danilo, Fábio Santos e Ralf integravam o elenco que sofreu nas mãos do minúsculo time mexicano. No entanto, esses mesmos quatro sobreviveram o vexame e conquistaram a Libertadores e o Mundial de Clubes no ano seguinte, e, portanto, contava-se muito com eles para ajudar a superar o medo inconsciente da Pré-Libertadores.

O Corinthians veio a campo com a mesma escalação do time que venceu o Marília no domingo passado, pelo Campeonato Paulista. Cássio; Fágner, Gil, Felipe, Fábio Santos; Ralf, Elias, Renato Augusto, Jádson; Émerson Sheik, Guerrero. Edu Dracena apareceu no banco por não estar 100% fisicamente, enquanto Mendoza, Edílson e Cristian estavam todos no banco de reservas por opção.

A escalação repetida, o passado condenável, o retrospecto contra colombianos, muita coisa pesava no subconsciente do torcedor alvinegro. Mas quando a bola rolou...

O QUE ACONTECEU COM ESTE ZAGUEIRO NUNCA FOI VISTO ANTES NA TELEVISÃO BRASILEIRA
(Foto: Lancenet)


Bastaram apenas 30 segundos para o Once Caldas entregar a paçoca no campo de defesa, Emerson Sheik driblar o marcador na faixa esquerda do último terço e, com a categoria de um maestro, colocar a bola por cima do goleiro Cuadrado e no ângulo. A partir daí, as cortinas se abriram e o jogo se mostrou por inteiro: um Corinthians pilhado e taticamente disciplinado contra um Once Caldas desentrosado, nervoso e tentando se aproveitar de falhas esporádicas - e previsíveis - da zaga do Timão. O Once Caldas só conseguiu levar perigo de fato à meta de Cássio em um lance de gol anulado de maneira duvidosa por impedimento, decisão que já dava sinais do fraco calibre do árbitro Patrício Loustau.

A partir dos 20 minutos, o Alvinegro Paulista se permitiu relaxar e o Once Caldas tomou vantagem, chegando mais uma vez com perigo no gol. Mas o relaxo custou caro: aos 28 minutos, Guerrero e o zagueiro Camilo Pérez disputaram bola no ar e se agrediram de maneiras similares. O árbitro, provavelmente um fã da conhecida substância "Aguardente Curió", tomou a decisão unilateral de expulsar o atacante e dar apenas cartão amarelo para o defensor. Com um homem a mais em campo, os colombianos começaram a inverter o padrão e forçar o Corinthians a se defender, dependendo da malandragem e catimba de Sheik para desestabilizar os colombianos. O esforço dos dois times também os anulou de tal maneira que os desarmes duros e a malícia tomaram conta do que até então vinha sendo um bom jogo de futebol. Aos 47 minutos, o juiz encerrou a partida.

Nenhum dos times voltou diferente para o segundo tempo, mas a mentalidade do Timão era outra. Emerson Sheik, rei da malandragem, fazia o impossível para cavar uma expulsão no time do Once Caldas, e pouco a pouco o restante do time do Corinthians focou em fazer o mesmo. Deixar a bola em segundo plano desse jeito pode ter efeitos adversos, como os 4 ataques em menos de 10 minutos realizados pelos visitantes. Felizmente, havia um plano ali.

Émerson Sheik, aos 9 minutos, recebeu bola na ponta esquerda. Não foi pra cima, não se apressou. Caminhou até a linha de fundo, deu as costas para o zagueiro, viu que não ia cavar a falta e deu uma bicuda contra seu marcador. Escanteio aos 10 minutos. Jádson cobrou e a bola encontrou a cabeça de... Felipe.

Sim, vocês vão ler isso e acreditem quando eu digo que foi mais difícil para mim do que para vocês: Felipe subiu de cabeça e fez 2x0 para o Corinthians. O zagueiro Felipe, que, inclusive, nunca foi criticado por mim em texto algum. Sempre acreditei no seu potencial.

A partir daí o Corinthians voltou a ir pra cima mesmo com um a menos, o que não durou muito tempo; Murillo, lateral do Once Caldas, levou o segundo amarelo aos 25 minutos por agredir Fágner sem bola. No lance seguinte, a justiça foi feita da maneira mais doce: Sheik recebeu na esquerda, fez três ou quatro embaixadinhas e correu no meio de três marcadores. Antes de ser derrubado por um deles, tocou para Elias, que tabelou com Jádson e deu para Renato Augusto na meia-lua, que fez o pivô para o mesmo Elias, que tirou o marcador e finalizou. Um golaço, uma pintura, um gol de Winning Eleven e um grito entalado na garganta do torcedor corinthiano que vivenciou um jogo cíclico como esse. Corinthians 3x0 Once Caldas.

Aos 35 minutos, ainda deu tempo de mais uma ótima jogada de passe corinthiana que viu Fágner, livre, encobrir o goleiro e deixar o placar em 4x0. A partir daí foi só "olé", "olé", "olé"... onze vezes. Stiven Mendoza entrou aos 37 no lugar de um ovacionado Émerson Sheik; aos 39, Elias também saiu aplaudido para dar lugar a Bruno Henrique e, aos 44, Felipe sentiu cãibras e deu lugar a Edu Dracena, mas o resultado já estava cravado em pedra. Um jogo que começou bem, depois azedou, depois melhorou, e depois ficou perfeito, tudo isso por conta do espírito e do brio de Tite e seus comandados, especialmente o contestado Émerson, em face de uma adversidade grave como estar com um a menos.

Quer dizer, exceto pela Avenida Fábio Santos, que, mesmo com a tarja de capitão no braço, deu uma de esperto e solou um atleta do Once Caldas achando que o juiz não ia ver. Expulso, o lateral desfalca o time na volta junto com Paolo Guerrero. Porém, logo em seguida, o árbitro encerrou a partida e o torcedor corinthiano voltou sorrindo para casa.

Sobre a performance do time, é difícil criticar os erros dos jogadores após a expulsão de Guerrero, dado que o centroavante é um dos pilares do time. Porém, simplesmente por terem conseguido segurar o 1x0 e por fazer 2x0, a equipe já estava de parabéns. Ter feito o terceiro e o quarto gol em jogadas de passe dignas do tiki-taka catalão de 2012 foram bons sinais de que esse time tem cabeça forte de sobra para compensar a que falta em alguns.

O próximo compromisso do Coringão é o dérbi contra o Palmeiras, no dia 08/02 (domingo), às 17h (Brasília), pelo Campeonato Paulista. Corinthians e Once Caldas se enfrentam pelo jogo de volta no dia 11/02 (quarta-feira), às 22h (Brasília).
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Autor: Unknown

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