Mais um enorme obstáculo superado


  
O futebol pode deixar a desejar em alguns jogos, mas a entrega é sempre 100% (Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net) 



Estou escrevendo este texto no dia seguinte ao jogo e ainda não estou completamente calmo. Os 90 minutos jogados ontem no Equador foram os mais 'longos' do ano, sem dúvida alguma. Do começo ao fim - com um breve momento de tranquilidade no final do primeiro tempo - a partida contra o Emelec foi nervosa, daquelas que não deixam nenhum torcedor ir dormir de cabeça fria depois. Já se podia prever na véspera do jogo a dificuldade que enfrentaríamos, quando os equatorianos não permitiram que o São Paulo treinasse com bola no gramado do estádio George Capwell, ao contrário do que havia sido combinado.

Muricy não surpreendeu ninguém e definiu a escalação que se esperava: Rogério; Hudson, Paulo Miranda, Edson Silva, Alvaro; Denilson, Souza; Michel Bastos, Ganso, Kaká; Kardec. Um time com características de posse de bola e pouca velocidade - as opções para um jogo mais rápido, Osvaldo e Ademilson, estavam no banco. Uma partida consistente e segura traria a classificação sem grandes problemas. Mas desde quando o São Paulo consegue fazer um jogo assim? Todo torcedor são paulino tem absoluta certeza de que enfrentará emoções em qualquer jogo, sobretudo defensivamente.

Sabe quando você passa horas planejando alguma coisa, pensando no que vai fazer e/ou falar, mas na hora H tudo dá errado desde o começo? Foi mais ou menos isso que aconteceu no início do jogo. 18 segundos (sim, dezoito segundos) de bola rolando e de repente o atacante Bolaños estava cara a cara com Rogério, que nada pode fazer para impedir a abertura precoce do placar. 1x0 para os equatorianos num gol relâmpago com nova falha da zaga - Edson Silva ficou parado e Alvaro chegou atrasado. Obviamente, a equipe adversária se animou com o gol e a torcida ficou inflamada. Cenário perfeito para uma tragédia futebolística.

A dificuldade que o São Paulo apresentava para ficar com a bola era incrível. Tudo bem, o Emelec pressionava muito e dificultava a vida dos são paulinos, mas o time escalado por Muricy tinha como principal característica a capacidade de trabalhar a bola e controlar o jogo. Aos poucos, porém, a equipe parecia querer melhorar e conseguia ser mais incisiva. O lance mais importante da primeira etapa ocorreu aos 28 minutos: Michel Bastos cobrou falta, Paulo Miranda desviou de cabeça e deixou Kardec cara a cara. Gol do camisa 14, que soma quatro tentos nos últimos quatro jogos, e 1x1 no placar. O São Paulo ainda iria para o intervalo em vantagem, com gol de Ganso, aos 39 minutos. Michel, Souza e Kaká fizeram ótima jogada e o camisa 10 só empurrou para as redes. Intervalo, vitória parcial por 2x1. Ufa. Será que agora a classificação já estava garantida?

Mas é claro que não. Nisso, o São Paulo é extremamente regular: sempre garante emoções até o último instante. Já tínhamos o exemplo do jogo de ida, no qual abrimos 3x0 tranquilamente no primeiro tempo e quase levamos o empate no começo do segundo. Pois o que aconteceu foi praticamente a mesma coisa: dois gols sofridos no início da segunda etapa, só não parecia replay porque dessa vez eles foram de pênalti - ambos bem marcados. Mais um gol do Emelec levaria a partida para os pênaltis; se o São Paulo marcasse, porém, dificultaria demais a vida dos equatorianos, que precisariam de mais três gols para a classificação. É sempre mais sensato adotar uma postura cautelosa nesse tipo de situação, e o São Paulo, mesmo correndo riscos, fez bem ao se fechar e procurar segurar o resultado - o time estava nitidamente pregado em campo.

A parte final do confronto, como diria o célebre narrador Galvão Bueno, foi teste pra cardíaco. O Emelec chegou muitas vezes com perigo e colocou uma bola na trave. Num momento como esse, não é de se surpreender que Ele tenha assumido a responsabilidade e garantido a classificação. Sim, Rogério Ceni foi decisivo mais uma vez e arrisco-me a dizer que, sem ele, não estaríamos na semi-final. O nosso eterno capitão - que hoje concedeu a braçadeira a Denilson, dando continuidade ao rodízio que vinha promovendo - não teve culpa alguma em nenhum dos três gols sofridos, quase pegou um dos pênaltis e fez boas defesas, nenhuma brilhante, mas todas importantíssimas. Pelo segundo jogo seguido, Rogério Ceni foi o melhor jogador em campo. A aposentadoria está logo aí e Ele vem jogando cada vez melhor. Com a classificação, sorte nossa: ganhamos mais duas oportunidades de vê-lo jogar. Cada chance, a partir de agora, vale ouro.

É importante destacar a sequência complicadíssima de jogos que teve o São Paulo nesses últimos dias. Jogamos segunda-feira contra o Goiás e quinta-feira contra o Emelec, ambas as vezes no Morumbi; domingo fomos a Santa Catarina enfrentar o Criciúma e fechamos a sequência agora, na Colômbia. Apenas três dias de intervalo entre cada jogo, com viagens longas. Das quatro partidas, ganhamos três e saímos com a classificação na única em que perdemos. Podemos reclamar de muitas coisas desse time, mas a entrega dos jogadores deve ser ressaltada. Kaká é o símbolo disso: nem sempre faz excelentes partidas, mas corre o tempo todo e é um exemplo para todo mundo. Se conquistarmos algum título na temporada, os atletas merecem todo o reconhecimento por essa dedicação.

O Atlético Nacional, da Colômbia, será o nosso adversário na semi-final. A CBF havia prometido ao São Paulo que os jogos seriam disputados nos dias 19 e 26 de novembro caso o time se classificasse, de modo que a partida contra o Inter, pelo Brasileiro, ocorreria dia 12. Porém, não é nada surpreendente que a CBF não cumpra o que prometeu, e foi isso que aconteceu: provavelmente por pressão da Globo, a entidade determinou que o jogo de ida, na Colômbia, ocorrerá no dia 12, deslocando São Paulo x Inter para o dia 19. A diretoria tricolor chegou a ameaçar abandonar a competição, alegando que não havia voos para a Colômbia no tempo necessário - o São Paulo vai à Bahia enfrentar o Vitória neste domingo -, mas isso não deve acontecer. Talvez a solução seja ir ao jogo do fim de semana com o time reserva, permitindo que os titulares viajem antes para a Colômbia. Seja qual for o desfecho da história, a CBF está protagonizando mais um episódio lamentável e justifica as declarações de Emerson Sheik ("CBF, você é uma vergonha"). Infelizmente, o futebol brasileiro é gerido com total amadorismo, basta notar que são as emissoras de tv que controlam o esporte e não o contrário. A vítima da vez foi o São Paulo e passamos a ter mais um obstáculo para enfrentar, como se não bastassem os já existentes.

O jogo do outro lado da chave ainda não foi definido. Caso o São Paulo consiga o tão complicado voo para Medellín e classifique-se para a final, pode enfrentar River, Boca, Estudiantes (os três da Argentina) ou Cerro Porteño (do Paraguai). Essa Copa Sul-Americana está com muito mais cara de Libertadores do que a própria que foi disputada esse ano. Esse final de temporada promete.


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Autor: Victor Castro

Apaixonado por futebol acima de tudo, são paulino fanático desde criança, estudante de engenharia na Poli-USP e fã de Iron Maiden. Escrevo no C11.
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