Sem desespero, amigo

NUM É POSSÍVEL | Foto: Jefferson Bernardes/Vipcomm

"Que time ruim, só jogou mal e ganhou uma por causa do juiz. Nunca que será hexa. Imagina quando pegar Alemanha ou Holanda?!" reclama o comentarista de mesa de bar com um copo pequeno (amanhã ainda é quarta, oras) de cerveja ao seu lado. Calma, não é para tanto. O Brasil não saiu do 0 contra o México no Castelão, fez um jogo abaixo do esperado sim (de novo), mas criou até mais chances que na estreia, enfrentando desta vez um time mais ousado - e um goleiro inspirado.

Não acho o México mais time do que a Croácia. Olhando assim, jogador por jogador, não é. Mas vi no México um time que não queria somente se defender; buscou o ataque, se impôs logo nos primeiros segundos e quis chutar no gol muito mais do que a Seleção Brasileira.

Seleção que confirmou a ausência de Hulk logo ao chegar no estádio. O camisa 7 tinha condições de jogo e chegou a ficar no banco de reservas, mas Felipão não quis arriscá-lo. Ramires foi o escolhido para entrar em seu lugar. O resto, o mesmo de sempre: Júlio César, Daniel Alves, Thiago, David, Marcelo, Luiz Gustavo, Paulinho, Oscar, Neymar e Fred.

Ramires começou pela direita, empurrando Oscar pela esquerda e deixando Neymar solto pelo meio. As posições chegaram a se revezar, mas basicamente era isso. Um time que, no papel, prometia consistência nas pontas e boas chegadas do Neymar com seus dibres e sua malemolência perto da área. Mas, no campo, não saiu do previsível. Tanto no primeiro quanto no segundo tempo, as melhores chances foram em cruzamentos, com Neymar, Paulinho e Thiago Silva. Todas paradas pelo goleiro mexicano, Ochoa.

Abre-se aqui um parágrafo para falar das defesas deste sujeito que usa tiara. A primeira em uma cabeçada perfeita do Neymar depois de belo cruzamento do Daniel (!!!), em que o então desconhecido cabeludo foi buscar a bola no lugar onde Pletikosa jamais alcançaria. A segunda, depois de uma baita PEITADA na bola do Thiago Silva, quando Ochoa abafou o chute de bico do Paulinho quase na pequena área. Mas a terceira, ah a terceira... a terceira foi foda. A terceira defesa de Ochoa é aquela que te faz ficar inconsolável depois de já ter ido até a rua gritando gol e tirando a camisa. 40 e tantos da etapa final, cruzamento fechado de Neymar, Thiago Silva sobe sozinho na pequena área e cabeceia em cheio. Gol. Não. Alguma entidade asteca fez a bola desviar e explodir em alguma parte do corpo do goleiro mexicano (não vi onde, estava ocupado xingando), que com certeza nem viu a bola. Ao vivo foi inacreditável.


A única jogada boa que não surgiu de um cruzamento foi um ótimo lançamento do Dani (!!!!!) para Bernard no início do segundo tempo, logo após o garoto ter entrado no lugar de Ramires. Ele invadiu a área, mostrou toda a sua alegria nas pernas e, adivinha: cruzou, claro. A zaga tirou. Teve também uma boa enfiada do mesmo Bernard para Jô, que chutou para fora. Mas aí eu nem sei se conta, afinal, é o Jô né.

O México ameaçou com vários (muitos mesmo) chutes de fora da área, mas nada que Júlio César não conseguisse evitar estando bem colocado. Aliás só precisou de duas boas defesas - uma delas o juizão (que não era japonês) nem viu.

O destaque final fica para a torcida, sem dúvidas a maior responsável pelo espetáculo. A brasileira e a mexicana, cantando os hinos como nunca, incentivando o tempo todo, devolvendo provocações e vaiando quem precisar vaiar. Algo sensacional.

Pontos positivos
Pensem na estreia contra a Croácia. Ganhamos, fizemos 3 gols, mas foi um com muita (muita, tipo muita) sorte, um com um pênalti inexistente e outro de bico no contra-ataque. E só. Neste, ainda que não sendo o suficiente e sendo todas as chances exclusivamente em cruzamentos, criamos mais. Felipão disse que o time chegou para a estreia em algo como 80% do seu máximo e que melhoraria ao longo da competição; de certa forma, está acontecendo. A pressão inicial na saída de bola do adversário, procedimento executado nos 5 jogos da última Copa das Confederações, ainda não aconteceu neste ano - pode ser que volte nos próximos jogos, com essa melhora no rendimento.

Entre os jogadores, achei muito boas as atuações de Luiz Gustavo, David Luiz e Thiago Silva. Sim, de novo, a defesa. Neymar, apesar de não tocar a bola, estava correndo com todo o gás até os 48' do segundo tempo.

Pontos negativos
Cresce a desconfiança em cima de jogadores como Paulinho e Fred, longe de render o que esperam deles. Felipão terá que proteger a família como nunca até essa incerteza que paira sobre os dois ir embora (até segunda-feira, se Deus quiser). E a Seleção entra pressionada como nunca para jogar contra Camarões em Brasília, não podendo vacilar nem um segundo se houver vitória de alguém no jogo entre Croácia x Camarões, amanhã.

Notas
Importante: não levar sempre a sério. Grato.

Júlio César | Seguro quando necessário. Ainda bem que eles não estavam calibrados. Nota 7.

Daniel Alves | INCRIVELMENTE melhor na marcação. E acertou (acertou, acertou!!!) um bom lançamento e um bom cruzamento. Tá melhor que a sua média, o que o leva a uma nota 3 ou 4. Ele pintou o cabelo, né? Nota 2 então.

Thiago Silva | Nosso líder, nosso capitão, perfeito na zaga até quando teve que fazer uma falta duríssima. Se aquela cabeçada entra ele viraria um herói. Nota 8.

David Luiz | Menos mito que no primeiro jogo, mas ainda mito. Nota 7,5.

Marcelo | Faltam cinco minutos para acabar, você recebe a bola na área, se atrapalha, vê o defensor se atrapalhando mais ainda e a Brazuca sobrando no bico da pequena área adversária. Mas sente o dedinho do zagueiro encostando na sua gola e se joga que nem um retardado. Filho da puta. Nota -37.

Luiz Gustavo | Simplesmente o melhor volante da Copa do Mundo até aqui. O tal do Guardiola não sabe nada, cara. Nota 10.

Paulinho | Ficou no Maracanã, onde jogou contra a Espanha lá em 2013. Esse é outro. Nota 2.

Ramires | Acrescentou em uma coisa: os cartões. Nota -3.

Oscar | Meio desligado, mas tentou bastante e chegou em certos momentos a lembrar a ótima atuação que teve contra a Croácia. Seguiria sendo meu titular. Nota 6.

Neymar | Sim, é recomendável tocar a bola às vezes. Se bem que o 10 se salvou hoje também, não voltando à artilharia por única e exclusiva culpa do goleiro. E correu demais. Nota 4 pelo cabelo loiro, eu tenho critério (vocês já viram que dá azar esse negócio)

Fred | Não cara, não é assim. s/n

Bernard, Jô e Willian | Um quando tinha que chutar não chutou, o outro chutou mal e o terceiro nem na bola pegou.

Felipão | Boa sorte defendendo esses caras. Prevejo uma semana longa.

0x0a | #ad quem entendeu.

Torcida | Esses fãs de Chaves e de sombreiros vêm para o nosso país achando que podem fazer a festa assim e ainda por cima xingar nosso goleiro. Apesar de não ter funcionado, foi legal ver os brasileiros respondendo com "Puuuutooo" em cada tiro de meta do Ochoa.

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Acho sim que melhoraremos e passaremos pelos africanos, retomando boa parte da confiança, mas não dá para não ficar nervoso. Vale lembrar que Luiz Gustavo, Neymar e Thiago Silva, três jogadores fundamentais, correm o risco de ficar fora das oitavas-de-final caso ganhemos e algum deles leve cartão - nesse ponto, o resultado positivo hoje também poderia ser importante para poupá-los segunda, entrando todos com cartões zerados nas oitavas.

A nossa sorte é que até lá têm uns 15 jogos para relaxarmos e curtimos. Te amo, Copa do Mundo. E haja coração!


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Diogo Magri
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Autor: Diogo Magri

17 anos, são-paulino do interior. Tenho trauma de bola parada, de pênaltis e de elogios ao goleiro antes do fim do jogo. No C11, falo de futebol europeu. Na vida, tento sofr... digo, ser jornalista.
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