Taticando na Copa #07 - Espanha e Chile passam e Holanda sobrará


Quando saíram as bolinhas do grupo B, eu, como admirador da seleção Chilena fiquei com um misto de sensações. Chateado, porém confiante que o time ia poder mostrar em jogos mais difíceis o que mostrou nas eliminatórias. Estar num grupo onde possui nada menos que a última campeã e a vice-campeã do mundo, sendo essas duas seleções de forte nome, não é nada fácil. 

De coadjuvante, a fraca Austrália vem para figurar e apanhar das outras tres equipes. Mas entre as outras três não consigo prever quem passaria. Vejamos o que os jogos nos espera, pelo menos taticamente, no ramo pela qual adoro analisar:

ESPANHA

A atual campeã do mundo manteve uma boa base da sua equipe campeã mundial e bi da Eurocopa. Seu craque Xavi pode não estar na mesma intensidade de antes, porém Xabi Alonso, Iniesta, Sergio Ramos, Busquets e cia continuam jogando ao mais alto nível de futebol, somando-se a Silva, Casillas, Pique, dentre outros.

Com o mesmo Tiki-Taka, jogo de posse de bola paciente, que faz a bola circular em busca de espaços nas defesas adversárias, a seleção Espanhola ganha um adicional de penetração na frente. Com a naturalização do centroavante brasileiro Diego Costa, o time ganha em força ofensiva, intensidade, explosão e principalmente finalização, coisa que, com a notável ausencia de um atacante incontestável, vinha fazendo a equipe ter dificuldades. Mas a opção de usar um falso 9 sempre fica viva. Para isso, tem em Fabregas a sua arma de versatilidade para poder usar essa função de recurso. Observem os dois casos:



No primeiro quadro, o 4-3-3 com centroavante. Ganha-se no combate ás defesas adversárias e não se perde tanto em posse assim, já que Diego Costa gosta de participar do jogo. Vejo como boa alternativa; No segundo, o mais utilizado 4-3-3 com falso 9. Fabregas gerando espaço e distribuindo para a penetração de Pedro e Silva e pras chegadas de trás do bom lateral Alba e do monstro Iniesta.

Sobre as dificuldades citadas, percebeu-se nos ultimos jogos um problema que vinha assolando a equipe. Quando o time enfrentava um outro de marcação firme e na frente, sofria. O tiki-taka não funcionou contra Brasil e Italia na Copa das Confederações e evidenciou a carencia em intensidade da equipe, que era um dos fortes dela no ultimo mundial. E o Chile marca tão pesado quanto essas duas seleções, só ver como no ultimo amistoso entre eles ano passado a campeã sofreu na mão dos comandados de Sampaoli. Ja no jogo contra a Holanda, equilíbrio nos dois lados, com qualidade na posse, e volúpia ofensiva. Os jogos serão para lá de interessantes.

HOLANDA

Louis Van Gaal comanda uma equipe bem mesclada. Misturando revelações como Danny Blind do Ajax e jogadores experientes como Wesley Sneijder, o técnico levou a equipe a um primeiro lugar absoluto em seu grupo nas eliminatórias europeias.

O time, ao longo da disputa, mostrou muita solidez ofensiva, tendo em Van Persie, o artilheiro do torneio com 11 gols e muitas contribuições dos pontas Lens e Van der Vaart, com 5 cada. Municiados por Sneijder, que joga sobre a proteção de dois volantes como De Jong e Strootman (que se lesionou e não irá a Copa), o time ameaça constantemente o adversário e traz constantes dores de cabeça a defesa do mesmo.

Sofre com alguns problemas defensivos, já que aposta num miolo de zaga muito jovem (média de 22 anos) e que ainda se adapta ao modelo Van Gaal, na qual os zagueiros devem e muito participar do início da construção das jogadas. A falta de paciencia em circular a bola e um certo déficit em leitura de jogo faz com que de vez em quando surjam erros na saída, o que pode ser mortal contra times como Espanha e Chile, que pressionam alto no campo.

Estrutura-se num 4-3-3/4-2-3-1 clássico dessa maneira:


Nota-se a centralização das ações em Sneijder. Mesmo não estando no seu auge, ainda é de extrema importancia para a seleçao de seu país. Robben e suas entradas em diagonal tambem será uma arma muito boa para dificultar a vida dos laterais esquerdos adversários. A ausencia de Strootman será sentida, já que vinha fazendo temporada impecável. Vejamos se Clasie corresponderá a altura.

Quanto a vaga, uma incógnita. Não há como prever como essa Holanda responderá aos estímulos dessa primeira fase, até por ser uma equipe jovem. Os experientes terão que assumir esse início!

CHILE

Quando Bielsa saiu ao final da última Copa, os chilenos viram uma mudança de patamar na sua seleção. Uma safra de muito potencial e que podia fazer a seleção do país ir longe e disputar com mais forças os proximos torneios. Só que se decepcionou. Borghi assumiu e viu uma equipe com muitos bons nomes se perdendo em problemas de comportamento e atuações fracas e descompromissadas. Perda em casa para a Argentina e demissão do argentino.

No país, a sensação do momento era a então campeã da Copa Sulamericana Universidad de Chile, comandada pelo então desconhecido Jorge Sampaoli. Time bonito, de fluencia ofensiva, de intensidade ímpar, encantou o país e a américa, goleando times como Flamengo e LDU e ganhando do então forte Vasco. Título incontestável e um conjunto de jogadores que viria a ser chamado para a seleção.

Com a demissão de Borghi, não deu outra. Sampaoli assumiu a seleção e tinha a missão de resgatar o bom futebol dos jogadores e o bom ambiente do grupo. E o fez. Começando em 2013, deu uma arrancada do 6º ao 3º lugar nas eliminatórias, ganhou 6 jogos seguidos (incluindo Uruguai em Montevidéu, Equador em casa dentre outros) e classificou a equipe para a Copa.

Juntou os cacos, conversou com cada um e fez uma equipe com estilo muito parecido com sua La U. Posse de bola fluente, massacrando no ataque, ataque intenso nas laterais, pressão intensa na saída de bola e muita doação em todos os setores do campo. Fixou Bravo como capitão, deu segurança a Medel, Isla, Vidal, Valdivia e Sanchez, remanescentes da era Bielsa, para desenvolverem o estilo e apostou em nomes de sua La U como Gonzalez, Mena, Diaz, Aranguiz e Vargas. Futebol bonito e que mostrou em amistosos contra Espanha, Inglaterra, Brasil e Alemanha que não vem pra figurar no país do futebol.

Quanto ao tático, Sampaoli usa de algumas variantes táticas, nunca perdendo seu estilo. Quando joga contra equipes que usam 3 atacantes, Sampaoli usa uma linha de 4 atrás. Contra 2, usa 3 atrás, sempre mantendo um sobrando. Já quando usa centroavante, joga com tres atacantes e um meia por trás dele, para municiá-lo constantemente e auxilia-lo na pressao aos zagueiros e volantes. Quando se usa de um falso 9, normalmente Valdivia, gosta de usar dois volantes por detrás que cheguem muito a frente, atacando a área e ocupando espaços gerados por esse jogador central. Observem:



Como falso 9, Valdivia tem espaço para armar e abre um buraco na defesa adversária com sua movimentação para fazer suas enfiadas. Vidal, Aranguiz, Sanchez e Vargas se aproveitam desse espaço e fazem o jogo fluir.



Sem Valdivia, o time mantem a intensidade em nível alto, mas perde em pausa e em qualidade no passe. Sufoca muito o adversário, mas por não saber quando reduzir o ritmo acaba errando muitos passes. 

Uma coisa notável nesse Chile é o quanto eles pecam na finalização. Don Sampa precisa ajustar isso, já que produzem muitas oportunidades e disperdiçam muitas delas. Vejo essa seleção dando muito trabalho pras duas tradicionais e se bobear descolando uma das vagas. Vejamos...

AUSTRÁLIA

Ao analisar a Australia, peço para que voces tomem como referencia a goleada brasileira de 6 a 0 no fim do ano passado. Não é muito diferente daquilo. Uma seleção que passou em segundo lugar em seu grupo nas eliminatórias asiáticas, não aparenta que vá dar trabalho. Com atacantes de pouca expressão e uma defesa pouco experiente e que não atua bem contra seleções grandes, tende a ser o saco de pancadas do grupo. A não ser que o técnico Ange Postecoglou mude muita coisa, vem pra sair cedo daqui do Brasil.

Preferindo um 4-3-3, joga atrás e pouco ataca. Mas tem transições lentas e por causa disso pouco produz. Joga mais ou menos assim:


Após as analises desse grupo, se viesse a ter que apostar em algo, apostaria numa surpresa. Apostaria em Espanha e Chile passando com Holanda fora e Australia em ultimo. Vejo muito potencial no esquadrão de Sampaoli pra ir longe. Grupo interessante e que será muito bom de ver seus jogos. Acompanharei de perto!

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Esta foi a sétima edição do Taticando na Copa, com Gabriel Daiha, comentando sobre o grupo B em que Espanha e Chile passam para a próxima fase. Divulguem este texto, vale a pena sempre ler sobre essa parte no futebol. Estimular a leitura sobre táticas enriquece conhecimento e é cultura!

Confira o último texto com Diogo Ribeiro: clique aqui

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Autor: RMZ

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