Argentinos comemoram vitória (Foto: FIFA) |
Pelo Grupo F, Irã e Argentina jogaram na tarde deste sábado (21) no Mineirão. Cerca de 50 mil argentinos, 30 dentro do estádio, acompanharam a segunda vitória albiceleste na Copa surgir de um gol improvável para quem assistira o jogo até então. O Irã, valente e guerreiro, teve nas mãos de Haghighi um muro persa. Pena que existe alguém capaz de derrubar muros apenas com um raciocínio. E esse alguém é Lionel Messi.
Primeiro tempo
A Argentina veio para o jogo confiante em uma mudança de postura em relação ao jogo diante da Bósnia, na estreia. Com Gago e Higuain no time titular, como nas eliminatórias e nos amistosos pré-Copa, Sabella contava com um trio ofensivo poderoso para furar uma provável e iminente retranca persa. A retranca veio, o poderoso ataque fico devendo.
O Irã de Carlos Queiroz veio fechado, porém armado para contra-atacar, algo que abdicou diante dos nigerianos. Com Shojoei no lugar de Heydari, o luso ousou. Pouco, mas ousou.
O primeiro tempo começou como esperado. O Irã, talvez pressionado pelos milhares de argentinos nas arquibancadas cinzas do Mineirão, iniciou a partida batendo muito. E nem precisava, até mesmo porque a Argentina estava fria e gélida sob um sol castigante, coisas que são inexplicáveis. Aguero e Higuain resumiram-se a uma bela tabela pelo lado esquerdo, com conclusão de Kun e defesa sensacional da parede persa Haghighi. Fora isso, apenas Di Maria correu e tentou, sem brilho, criar brio em seus companheiros que aparentam estar em nível físico crítico.
O capitão Nekounam, do Irã, pilotava o ônibus iraniano estacionado frente a grande área. Com cerca de 30 minutos de muito toquinho de lado e alguns ameaços persas, Messi alçou na área e Garay subiu, desviou para perto da trave do gigante Haghighi, que acompanhou e tirou com os olhos. Sim, ele tiraria tudo, exceto genialidades.
Após bater bastante no início, o Irã sentiu que não precisava apelar e começou, nesse momento do jogo, a acreditar ser possível vencer. Ficaram cerca de 20 minutos sem cometer uma falta sequer e, na bola, terminaram o primeiro tempo de forma mais coesa e decidida. Shojaei era o único disperso no Irã. O restante ajudava de forma absurda na marcação como se cada dividida valesse um ano a mais de vida. E talvez valesse mesmo.
Como disse, a Seleção Melli termina melhor a primeira etapa e em jogada conhecida, pois aconteceu contra a Nigéria, assustou. Em cobrança de escanteio, Dejagah joga na área e dessa vez o zagueirão Hosseini é quem sobe, mas manda pra fora.
Segundo tempo
O segundo tempo começa como extensão do primeiro. Irã chega pela direita, Montazeni cruza e Reza cabeceia sozinho na pequena área. Romero salva e inicia sua grande exibição.
Argentina mantém ritmo do primeiro tempo e sofre demais para entrar na bem postada defesa iraniana. Torcida presente em Minas tenta apoiar de todas as formas, mas nem isso parece contagiar a equipe, que conta com um Gago totalmente apático e uma dupla de ataque que assiste ao jogo de dentro de campo e maltrata a bola quando a tem em seu domínio.
A Argentina só começar a ser soltar aos 15 minutos, quando Messi arranca do meio campo e toca buscando o canto direito de Haghighi, no entanto, a bola vai pra fora.
Por se soltar e começar a dar mais espaços, Argentina perde território e o Irã cresce. E cresce de forma assustadora, chegando até a colocar pressão em cima dos zagueiros hermanos.
O time argentino sente o baque e se assusta com a pressão inesperada do Irã. Zaga dá sustos, como disse. Romero salva tudo. Assim como Haghighi, fez partida sensacional. Os melhores em campo foram os dois goleiros.
Aos 27, a melhor chance do jogo até então para o Irã. Reza recebe cruzamento e cabeceia ao estilo Van Persie, tentando encobrir Romero, que salta de forma espetacular e tira um gol que seria certo.
Aos 30, Messi cobra falta por fora da barreira e acerta a rede pelo lado de fora. Essa fora um das poucas boas chances da albiceleste no jogo inteiro.
Agora com Palacio e Lavezzi nos lugares de Higuain e Aguero, Sabella pede para que o time explore os lados do campo e pare de tentar entrar pelo meio, algo que estava facilitando a vida iraniana. Heydari entra no Irã e aumenta volume pelo lado direito.
Aos 40, no que parecia ser uma das últimas oportunidades do jogo, Palacio recebe lançamento na área, cabeceia bem e Haghighi, um monstro no jogo, salva. Apenas parecia ser a última oportunidade do jogo.
Chegamos ao momento em que a partida se decide. Em contra-ataque fulminante do Irã, Bakhsh, que havia entrado a pouco no lugar de Dejagah, lança Reza em profundidade e o atacante chega bem na bola. A chance do jogo. A bola da Copa para o Irã. Reza finaliza bem, forte e com jeito, Romero voa, literalmente, voa e tira. O jogo se decidira aí.
Sabe porquê?
Messi.
Messi capricha e vence muro persa chamado Haghighi (Foto: FIFA) |
Aos 45, na bacia das almas, quando todas as cornetas do planeta estavam zoando a pequena e genial cabeça do argentino, ele decide. Como os gênios, Messi recebe na direita, corta pro meio como fez por muitas vezes em sua brilhante carreira e.... e... e... o Mineirão calou-se. A bola de Messi, batida de forma calculada, parece caminhar em câmera lenta em direção a trave iraniana... Gol. Golaço. Um gol de melhor do mundo. Gol da Argentina. Gol de Messi. Um tiro no coração persa, porém um sorriso na história desse cara que merece ser decisivo. Aliás, que nasceu para ser decisivo. Belo Horizonte foi argentina nessa tarde. E Messi provou ser, talvez, o maior talento dessa Copa. Mesmo apagado, sofrendo pela inoperância de seus companheiros e errando bastante, resolveu sozinho, como poucos fariam.
Avaliações
Argentina
A Argentina precisa usar esse jogo diante do Irã para repensar seu rumo. Hoje, Messi decidiu. E quando isso não acontecer? E quando as genialidades de Lionel não forem suficientes? Aguero e Higuain vão jogar pelo nome? Lavezzi e Palacio fizeram, em 15 minutos, mais do que os outros dois em 60, 70. Impossível não ficar assustado. É possível vencer uma Copa do Mundo aos trancos e barrancos, ganhando apertado, jogando feio... mas também é raro. Aconteceu poucas vezes na história do Mundial e essa Copa tem mostrado que dificilmente isso irá se repetir aqui. Até os pequenos, como a Costa Rica, ganham jogando bem. Não é mais na bola parada, no esforço de um único cara, ganham no coletivo, algo que essa Argentina precisa urgentemente fazer.
Irã
A Seleção Melli é, sem dúvida, a melhor da história. Carlos Queiroz tirou muito desse grupo que tecnicamente é frágil, porém possui a alma que nenhuma outra seleção possui. A esperança da classificação inédita ainda permanece viva. É preciso repetir a grande atuação de hoje e torcer pelos resultados favoráveis. O Irã está vivo e jogou demais. Haghighi, muro persa, merece que esse time, contra a Bósnia, coloque dentro do gol todas as bolas que ele tira da sua meta.
Futebol não é justo. Futebol é aproveitamento. A Argentina aproveitou uma das chances que teve.
Irã
Notas
GOL: Haghighi - Um muro. Fez uma das melhores apresentações individuais de um goleiro em Copas. Só foi vazado pela genialidade, e nem todo esforço possível consegue parar uma genialidade. Nota: 10!
LD: Montazeri - Passou primeiro tempo quase como zagueiro e soltou-se na segunda etapa. Nota: 7,0
ZG: Hosseini - Apagou as más impressões da primeira partida. Quase marca de cabeça. Nota: 8,0
ZG: Sadeghi - Partida discreta em termos de posse de bola. Jogou sem ela e foi bem. Nota: 7,0
LE: Pooladi - Anulava todos os ataques pelo lado direito da Argentina até a entrada de Lavezzi, que descansado deitou em cima dele. Messi marcou saindo pelo seu lado também. Nota: 5,5
VOL: Nekounam - Bem no primeiro tempo. Discreto no segundo. Perdeu uma bola boba no meio no final do jogo e isso trouxe a Argentina ao ataque, resultado no gol de Messi logo depois. Nota: 5,0
VOL: Teymourian - Rei das divididas. Como disse no último jogo, frágil tecnicamente, porém voluntarioso ao extremo. Pulmão desse time. Nota: 7,5
VOL: Teymourian - Rei das divididas. Como disse no último jogo, frágil tecnicamente, porém voluntarioso ao extremo. Pulmão desse time. Nota: 7,5
VOL: Hajsafi - Melhor do último jogo, ficou apagado durante todo o jogo de hoje. Nota: 5,0
MAT: Shojaei - Disperso em um primeiro tempo que exigia sua participação. Entrou no jogo na segunda etapa, fazendo-se presente. Cresceu e foi bem. Nota: 6,0
SA: Dejagah - Bom jogo. Correu demais no primeiro tempo. Colocou seus companheiros na cara do gol com bola rolando e parada. Marcou demais. Nota: 8,0
SA: Dejagah - Bom jogo. Correu demais no primeiro tempo. Colocou seus companheiros na cara do gol com bola rolando e parada. Marcou demais. Nota: 8,0
CA: Reza Ghoochannejad - Perdeu, talvez, a maior chance de toda a história do futebol iraniano e viu seu time ser castigado logo após. Cabeceou em cima de Romero uma outra bola também. Foi bem, mas não conseguiu ser decisivo. Nota: 6,5
Substituições
LD: Heydari - Entrou no segundo tempo e incomodou pelo lado direito. Nota: 6,0
CA: Bakhsh - Poucos minutos em campo, um passe sensacional para Reza, que perdeu. Nota: 6,8
MLG: R. Haghighi - Entrou nos minutos finais. Sem nota.
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Argentina
Notas
GOL: Romero - Fez seu melhor jogo na vida. Acho difícil que volte a ter uma atuação tão colossal. Hoje, gigante. Amanhã, não sabemos. Nota: 10!
GOL: Romero - Fez seu melhor jogo na vida. Acho difícil que volte a ter uma atuação tão colossal. Hoje, gigante. Amanhã, não sabemos. Nota: 10!
LD: Zabaleta - Não apoiou e errou alguns cruzamentos bestas. Nota: 4,0
ZG: F. Fernández - Irã pouco atacou pelo seu lado. Quando chegou, ele se enrolou ao afastar algumas bolas e perder na velocidade para os atacantes persas. Atuação fraca. Nota: 4,0
ZG: Garay - Errou saídas de bola, tomou um monte de bola nas costas. Preocupante. Nota: 4,0
LE: Rojo - Primeiro tempo de apoio, segundo de sustos. Jogou na "posição Sorin" no segundo tempo, ou seja, largou tudo e subiu feito louco. Contra um time mais forte, pode complicar. Nota: 4,0
VOL: Mascherano - Discreto. Nota: 5,0
MLD: Gago - Pior em campo. Não fez nada, tocou na bola pouquíssimas vezes. Nota: 1,5
MLE: Di María - Único a tentar jogar no primeiro tempo. Sempre disposto e joga pro time. Nota: 7,5
MAT: Messi - Errou demais na primeira etapa. Arriscou algumas jogadas que geralmente não faz. Como é gênio, decidiu o jogo em uma bola. Nota: 7,0
SA: Aguero - Outra partida lamentável. Criou uma chance no jogo. Uma. Merece banco. Nota: 3,5
CA: Higuain - Nulo pelo lado direito. Assim como Aguero, criou uma jogada. Uma. Nota: 4,5
CA: Higuain - Nulo pelo lado direito. Assim como Aguero, criou uma jogada. Uma. Nota: 4,5
Substituições
SA: Lavezzi - Entrou bem e causou estrago pela direita. Merece ser titular. Nota: 6,5
SA: Palacio - Também entrou bem. Perdeu uma chance, mas mostrou boa movimentação. Nota: 6,0
VOL: Biglia - Novamente entrou no fim. Sem nota.
TEC: Sabella - Errou na escalação, percebeu e não corrigiu por teimosia. Nota: 4,0
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Sérgio Ricardo Jr. é estudante de jornalismo na UFRN e responsável por cobrir Argentina e Irã na Copa do Mundo 2014.
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