Lucas Lyra, baleado na cabeça há um ano, segue em franca recuperação no Real Hospital Português, em Recife (Foto: Edmar Melo / JC Imagem) |
No último final de semana completou-se um ano do incidente envolvendo Lucas Lyra, torcedor do Clube Náutico Capibaribe. Àquela época, Náutico e Central se enfrentavam no Estádio Eládio de Barros Carvalho (Aflitos, no nome mais popular, em referência ao bairro onde se localiza) em partida válida pela primeira fase do Campeonato Pernambucano de 2013. O Timbu perdeu por 1 a 0, mas quem nos dera se esta fosse a nossa única preocupação naquela noite...
Com o jogo ainda em andamento, surgiu a notícia de que um adepto alvirrubro tinha sido baleado na cabeça quando passava pela Avenida Conselheiro Rosa e Silva, endereço da sede do clube. Mais precisamente, perto da entrada dos Aflitos. Os prognósticos apontados pelos médicos estavam longe de ser otimistas no momento em que o torcedor timbu deu entrada no Real Hospital Português: chegaram a dizer que ele só tinha 1% de chances de sobrevivência.
Entretanto, Lucas Lyra incorporou um verdadeiro guerreiro e vem mostrando notável recuperação desde então, colocando por terra os inúmeros rumores sobre sua morte. Se dentro de campo a fase não é das melhores para o Náutico, fora dele um torcedor, até então desconhecido, tem marcado uma série de golaços e garantido a festa de sua torcida: seus familiares. O amor, evidentemente, é incondicional. O hospital é o seu estádio, sua arquibancada. O dia 16 de fevereiro de 2013 poderia ser visto como uma data fatídica, para se esquecer. Continua sendo, em partes, mas agora deu lugar a uma nova definição: foi o dia em que um jovem de 20 anos nasceu de novo.
Lyra está longe de poder voltar a frequentar estádios, mas nunca esconde sua paixão pelo Timbu (provas disso são a flâmula do clube na parede do quarto e a tatuagem do time na perna direita - ver foto acima). Sempre pergunta pelos resultados do time e quer se atualizar sobre o que acontece nos bastidores do Clube Náutico Capibaribe. Jamais perde o espírito de torcedor. É isso que o futebol faz com os seus seguidores: podemos sair dele, mas ele nunca sairá de nós.
A bala continua alojada em sua cabeça, mas isto não lhe impede de perder a alegria de viver. Mais do que ninguém, Lucas celebra cada dia como uma nova oportunidade para recomeçar sua vida. Muitos devem ser os planos os quais o rapaz faz para pô-los em prática quando sair do RHP. E todos têm fé de que este dia, mais do que nunca, está próximo. E, convenhamos, o pior já passou. Resta-nos continuar na torcida para que este jovem se recupere o mais rápido possível e volte a viver plena e normalmente.
Indubitavelmente, Lucas Lyra tornou-se um símbolo para a torcida alvirrubra. É comum ver nos jogos do Timba uma faixa com os dizeres "LUCAS GUERREIRO" entre os adeptos timbus. De fato, um lindo gesto.
Indubitavelmente, Lucas Lyra tornou-se um símbolo para a torcida alvirrubra. É comum ver nos jogos do Timba uma faixa com os dizeres "LUCAS GUERREIRO" entre os adeptos timbus. De fato, um lindo gesto.
Ainda em fevereiro de 2013, integrantes das maiores Torcidas Organizadas de Pernambuco - Jovem do Sport, Inferno Coral e Fanáutico - fizeram uma passeata em apoio a Lucas Lyra e pediram a paz nos estádios. Mas neste âmbito, o que tem mudado de lá para cá? Absolutamente nada, infelizmente. Fica difícil não apoiar a extinção desses grupos, antes vistos como uniões de torcedores apaixonados e agora tratados como facções criminosas e redutos de marginais. Até mesmo as pessoas de bem as quais os compõem acabam sofrendo com tal generalização.
As autoridades e os clubes não deveriam deixar episódios como o de Lucas se repetirem para tomar alguma providência em relação à violência nos estádios. Vivemos num país onde, por exemplo, consumir bebida alcoólica nos estádios é proibido - proibiu-se com o argumento de que a violência diminuiria, mas cadê? -, porém entoar cantos de apologia à violência nestas praças esportivas é permitido. Está tudo errado. Ainda.
E sabe-se lá quando tudo começará a se ajeitar... O afastamento das famílias dos estádios está cada vez mais evidente. O futebol vem passando por uma triste redefinição, de entretenimento para medo. Todavia, podemos virar esse jogo. Depende das autoridades e de cada torcedor. Cada um deve fazer a sua parte para a paz voltar a prevalecer fora das quatro linhas.
E sabe-se lá quando tudo começará a se ajeitar... O afastamento das famílias dos estádios está cada vez mais evidente. O futebol vem passando por uma triste redefinição, de entretenimento para medo. Todavia, podemos virar esse jogo. Depende das autoridades e de cada torcedor. Cada um deve fazer a sua parte para a paz voltar a prevalecer fora das quatro linhas.
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