A sapatada do Everton na manhã de hoje (26), por 3 a 0, em cima do Manchester United pela Premier League, me fez colocar em linhas um sentimento que tenho desde a chegada de Van Gaal aos red devils. O United cometeu um erro crasso. Priorizar estrelas, e não o time, fizeram a gigantesca agremiação inglesa agir como um novo rico, como o primo até pouco tempo, pobre.
A história dos dois Manchester é muito rica e intensa. O City, que nasceu rico e tornou-se pobre, viu seu primo pobre tornar-se rico e adorado. A divisão de classes na cidade gerou um time dos patrões e outro do proletariado. Dessa vez, como quase nunca na história da humanidade, a união fez a força, literalmente.
Falcao é apenas mais uma das estrelas que viram prioridade no United (Foto: Fox Sports) |
Quase 140 anos depois, a história nos põe dois times espelhados, com quase nulas diferenças. Durante todos esses anos onde o United cresceu, o City, mesmo que não admita, teve seu rival como exemplo. Demorou até entender que poderia, sim, ser um time de futebol competitivo e abrir seu leque para fora de terras inglesas.
As parcerias trouxeram dinheiro, prestígio e condição de igualdade mercadológica. Todavia, sobrava dinheiro e faltava tato com as verdinhas. O City partiu para o choque, apostou em estrelas, algo muito tradicional dos novos ricos. Assim como vemos hoje na MLS, dos EUA, para ser visto é preciso fazer aquilo que todos pararão para ver.
Não julgo a estratégia, pois ela tem se mostrado funcional. Entretanto, tem prazo de validade, possui objetivo curto e facilmente atingível. Posto como rico e vitrine, é preciso mudar a rota, os planos, ou a iminência do fracasso vai bater a porta, como tantas vezes vimos. É preciso saber agir quando todos os olhos estiveram voltados para você.
Muita gente se pergunta porquê o Chelsea se mantém em alto nível durante tantos anos, mais de 10. Além de ter mantido seu chefe, o planejamento sobre aquilo que foi traçado mostrou ao mundo a fórmula certa para manter-se no topo: priorizar o time, não as estrelas.
O United sempre teve como principal característica, principalmente na vitoriosa era Ferguson, a coletividade. Time com nomes badalados a partir do coletivo. Rooney, Beckham, Cristiano Ronaldo. Todos gigantes, todos construídos dentro de Old Traford.
Ao gastar rios e lagos de dinheiro em estrelas como Di Maria e Falcao, além de caminhões em promessas com pouco tempo de prova dentro dos gramados como L. Shaw, Van Gaal pisa na história de construção de times fortes coletivamente, história que se confunde com as próprias cores do clube. O United abdicou do time, não ligou para suas necessidades, apenas quis gastar, investir, talvez com ciúme do primo que investiu pesado nos mesmos moldes e ganhou alguns títulos locais, algo que mesmo sem investir, os red devils sempre conseguiram garimpar. Talvez tenha passado um filme antigo na cabeça dos vermelhos. A história não poderia, novamente, colocá-los abaixo dos citizens.
O Chelsea, exemplo positivo que dei, também já fez bobagens. Pagar o que pagou por Fernando Torres é um exemplo. Posso citar Ballack, Shevchenko, Anelka. Grifes. Deu resultado? Deu, local. Quando passou a contratar em cima das suas necessidades e visando somente a equipe, o Chelsea cresceu, tornou-se gente grande e levou uma Champions com o coletivo, sem estrelas, apenas com os ídolos formados durante a construção do time, como o Manchester United sempre fez.
Não estou aqui para dizer aquilo que se deve fazer. Estou para apontar e contar histórias. E essa, protagonizada pelo United, me pareceu interessante. Contratar por contratar, para só depois pensar em um time, foi talvez a pior escolha em termos de gestão que poderiam ter feito os engravatados de Old Traford.
Times têm essência, receitas, personalidade. Isso gera a diferença, a graça. A história recente do futebol mundial tem provado ano após ano que juntar estrelas e jogá-las com a mesma camisa não gera efeito positivo, salvo exceções. Para recuperar a identidade, o United talvez precise repensar aquilo que é prioridade. As estrelas? A torcida? O time? A história? A unidade do Manchester ficou apenas como resquício histórico no nome que carrega essa camisa encarnada e pesada.
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