Quando fala-se em Campeonato Brasileiro em pontos corridos e no século XXI, o Cruzeiro sempre vai estar entre os clubes mais citados. Desde 2003, ano em que a fórmula substituiu o mata-mata no Brasil, o time celeste já sagrou-se campeão por três oportunidades e ainda é o único clube fora do eixo Rio-São Paulo que conseguiu vencer a competição. As três conquistas têm algo em comum: em todas o Cruzeiro foi totalmente soberano no campeonato, não dando chance aos clubes que esboçavam uma perseguição.
2003
O Campeonato Brasileiro de 2003 era um pouco diferente do formato atual. Em vez de 20 clubes, eram 24 que se enfrentavam em turno e returno em um total de 46 partidas. Com a taça, o Cruzeiro quebrou um jejum que vinha desde 1966 sem vencer o principal torneio nacional – porém, no período a raposa faturou duas libertadores e três Copas do Brasil.
Time-base
Gomes; Maurinho, Edu Dracena, Luisão (Cris), Leandro; Augusto Recife, Maldonado, Wendel, Alex; Aristizabal, Deivid (Mota). O técnico era Vanderlei Luxemburgo, que soube montar um esquema que explorasse o melhor que Alex tinha a apresentar. Mesmo perdendo duas peças no meio da temporada – Luisão e Deivid -, o treinador soube lidar com os problemas e foi fundamental na conquista.
Campanha
O projeto do Cruzeiro 2003 teve início em 2002, quando Alex e Luxemburgo chegaram ao clube. O time ficou em 9º lugar no Brasileiro daquele ano – sendo assim eliminado antes das quartas de final – e ganhou tempo para se preparar. Nomes como Maurinho, campeão pelo Santos em 2002, e Aristizabal chegaram para elevar - e muito - o nível do time celeste.
Logo no primeiro semestre o ano do Cruzeiro já era um sucesso. Venceu o Campeonato Mineiro superando o rival Atlético-MG e a Copa do Brasil, diante do Flamengo. Mesmo assim, Alex e companhia não tiraram o pé e dispararam no Brasileirão. O time só conheceu a derrota na décima rodada, contra o Vitória em Salvador. Até lá, passou por duelos marcantes na conquista, como vitórias diante do São Paulo por 4 a 2 e Coritiba por 4 a 3, ambas fora de casa.
Em determinado momento do segundo turno, o Cruzeiro chegou a vencer oito partidas consecutivas. Entre esses jogos vitórias vitais pra cima de Atlético Paranaense, Santos – rival direto – e Atlético Mineiro. Com nove pontos de vantagem para o Santos, a raposa já garantiu o título na antepenúltima rodada, quando venceu o Paysandu por 2 a 1 em casa com gols de Zinho e Mota. Ainda sobrou gás para fazer 5 a 2 no Fluminense no Mineirão e rebaixar o Bahia com um acachapante 7 a 0 na Fonte Nova – com cinco gols de Alex.
Diferencial
Alex, obviamente. O jogador ainda é o que mais marcou gols pelo Cruzeiro em uma edição de Brasileirão. Era um líder dentro e fora de campo, aparecendo nos momentos difíceis. Além de Alex, também deve-se destacar o elenco formado por Luxemburgo. Ganhar três competições em um ano não é para qualquer um. Atletas como Maicon, Felipe Melo, Martinez, Zinho e Marcio Nobre foram fundamentais para o título.
Dificuldades
O Cruzeiro fez 100 pontos e marcou 102 gols no campeonato. Diante disso, é difícil apontar quais foram as dificuldades na trajetória. Existiram alguns deslizes, como as derrotas para Flamengo e Paysandu fora de casa por 3 a 0, mas nada que tenha causado muito pânico entre os cruzeirenses.
Jogos de seis pontos
Ao final do campeonato, o Cruzeiro fez 22 pontos a mais que o terceiro colocado São Paulo. Logo, a vitória por 4 a 2 no início do certame não pode ser considerada um jogo de seis pontos, mas foi vital para que o time celeste ganhasse confiança. As partidas que deram ainda mais certeza de que o título iria para Minas Gerais foram diante do Santos, na Vila Belmiro e no Mineirão. No jogo do primeiro turno, um golaço de Aristizabal e um tento decisivo de Mota deram a vitória à raposa em Santos. No Mineirão lotado, um show: Aristizabal marcou duas vezes – direito a um pênalti de cavadinha – e Felipe Melo fechou a conta, 3 a 0.
2013
Depois de vencer em 2003, o Cruzeiro entrou em um inferno astral e estava há 10 anos sem títulos de grande patamar. Após um 2011 vexatório e um 2012 melancólico, o time celeste chegava a 2013 totalmente reformulado, reforçado pelo Mineirão – que estava em reformas – e assombrado pelo bom rendimento do rival Atlético Mineiro. O time encaixou rapidamente e logo no primeiro ano do novo projeto já conseguiu o título brasileiro. Nesse ano, o Brasileirão já contava com apenas 20 clubes e 38 rodadas.
Time-base
Fábio; Ceará (Mayke), Dedé, Bruno Rodrigo, Egídio; Nilton, Lucas Silva; Everton Ribeiro, Ricardo Goulart, Dagoberto (Willian); Borges. Marcelo Oliveira era o técnico, que tinha um vasto elenco para explorar e esse foi seu grande trunfo para vencer o campeonato com tanta superioridade sobre os demais.
Campanha
O primeiro turno do Cruzeiro foi irregular. O time ainda estava encontrando os jogadores ideais para o time titular e passou por mudanças. Para ter ideia, Leandro Guerreiro, Diego Souza, Luan e Vinicius Araújo foram titulares em alguns momentos. Quando o time mais adequado passou a jogar com mais frequência, engrenou. Após perder para o Grêmio em Porto Alegre, a raposa conseguiu uma sequência de sete vitórias seguidas, incluindo jogos difíceis contra Goiás fora de casa e Botafogo – rival pela taça – no Mineirão lotado. Vale destacar a vitória diante do São Paulo no Morumbi enquanto a equipe ainda estava em fase de adaptação, com três gols de Luan.
Após vencer o Botafogo e abrir sete pontos na liderança, coube ao Cruzeiro administrar para não passar sustos no restante do campeonato. A ansiedade para o título era tanta que após vencer o Grêmio por 3 a 0 em casa, a torcida e os jogadores já soltaram o grito de tri campeão antes mesmo de se tornar oficial. Veio a se tornar oficial no triunfo diante do Vitória, em Salvador, por 3 a 1. O Brasil voltava a ser pintado em azul e branco. Detalhe: o Cruzeiro venceu todos os times pelo menos uma vez, algo histórico.
Diferencial
Apesar de Everton Ribeiro ter sido o grande craque do campeonato logo em sua primeira temporada no time mineiro, creio que o grande diferencial do Cruzeiro foi o ótimo e vasto elenco. Em um campeonato como o Brasileirão, ter grandes opções no banco de reservas faz toda a diferença. Precisa de um lateral mais incisivo? Mayke. Dagoberto e Borges machucados? Willian e Vinicius Araújo. Nilton suspenso? Henrique entra e dá conta do recado. Marcelo Oliveira soube trabalhar bem com os jogadores que Alexandre Mattos o entregou.
Dificuldades
A grande dificuldade na trajetória rumo ao título foi o primeiro turno, como já dito. As lesões de Dagoberto e Borges enfraqueceram o time, já que Willian ainda não havia chegado. Lucas Silva ganhou espaço definitivamente apenas nas rodadas finais do turno, além de Diego Souza ocupando a vaga de Ricardo Goulart. Depois disso, atropelamos.
Grandes confrontos
Quando você pergunta a um cruzeirense qual foi o jogo mais marcante da campanha de 2013 com certeza ele responderá a vitória diante do Botafogo. Com clima de decisão, Nilton e Julio Baptista (duas vezes) levaram o Mineirão à loucura. Partida que também serviu para colocar Lucas Silva entre os grandes do futebol nacional; simplesmente anulou Seedorf. Outros jogos importantes: vitória diante do Atlético Paranaense por 1 a 0; jogo que consolidou um clima de muito amor entre time e torcida. O outro com certeza foi a enorme vitória contra o Santos. Everton Ribeiro marcou um golaço e os cruzeirenses mais precipitados já gritavam É Campeão.
2014
Com o mesmo formato do ano anterior, o Brasileirão 2014 foi novamente conquistado pelo Cruzeiro, que fez uma campanha ainda melhor do que em 2013. Mais entrosado e dando show em alguns momentos, o time celeste precisou vencer suas próprias limitações físicas e psicológicas para levar o tetra.
Time-base
Fábio; Mayke, Dedé, Léo, Egídio; Henrique, Lucas Silva; Everton Ribeiro, Ricardo Goulart, Willian (Dagoberto/Alisson); Marcelo Moreno. Marcelo Oliveira chegava a incrível marca de dois Brasileirões à frente da raposa, novamente explorando um elenco qualificado.
Campanha
Diferentemente de 2013, em 2014 o Cruzeiro foi absoluto do início ao fim. Assumiu a liderança na sexta rodada e não largou mais. Chegou a ficar quase 3 meses sem saber o que era uma derrota.
A grande mudança em questão de estilo de jogo para 2013 foi a dupla de volantes. Com Henrique no lugar de Nilton, o Cruzeiro tinha um meio campo soberano, que trocava passes com uma facilidade absurda. Everton Ribeiro soube explorar o melhor de Mayke, que por sua vez cansou de dar assistências para os artilheiros Goulart e Marcelo Moreno.
O time deixou a desejar em algumas partidas de grande escalão, como diante de São Paulo, Corinthians e Atlético Mineiro, mas a forma avassaladora de vencer as outras equipes apagam essas memórias. Na reta final, uma ENORME sequência de vitórias contra Grêmio, Santos – ambas fora de casa – e Goiás garantiram ao Cruzeiro mais um título Brasileiro.
Diferencial
Everton Ribeiro e o elenco fora de série mais uma vez foram fundamentais, mas um elemento “novo” ajudou bastante o Cruzeiro na caminhada: Ricardo Goulart, além de muitos gols, realizava uma função tática que o tornou insubstituível no esquema de Marcelo Oliveira. Marcava, atacava, preenchia espaços e era um elemento surpresa nas jogadas de linhas de fundo. Monstro.
Dificuldades
Ao passar do campeonato, os grandes adversários do Cruzeiro eram o fator físico e, em alguns momentos, sua própria torcida. Como o time também avançou bastante na Copa do Brasil, o calendário ficou apertado e o desempenho em alguns jogos do Brasileirão deixou a desejar. Em uma partida diante do Palmeiras, em casa, o time chegou a ser vaiado após sofrer o gol aos 40 minutos; aos 44, Dagoberto marcou o gol de empate. Detalhe é que enquanto o time carregava a bola para o ataque buscando o empate, o Mineirão estava aos gritos de vaias... patético.
Grandes confrontos
Não existiu de fato um jogo de seis pontos nesse campeonato. Quando o São Paulo venceu o Cruzeiro e ficou apenas quatro pontos atrás da raposa, na rodada seguinte já perdeu e a diferença voltou a ser longa. Os jogos mais marcantes com certeza foram as três vitórias no sprint final para a conquista da taça. Vencer o Grêmio em Porto Alegre e o Santos na Vila Belmiro com os jogadores desgastados e pressionados não é nada fácil. Contra o Goiás, com o Mineirão chuvoso, serviu para coroar as grandes temporadas de Everton Ribeiro e Ricardo Goulart, autores dos gols no jogo que confirmou o título.
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Este foi o último texto da série que relembra os títulos do Campeonato Brasileiro (unificado) do Cruzeiro. O que achou? As duas publicações foram feitas pelo convidado Igor Junio, torcedor fanático do Cruzeiro. Gostaria de conversar mais sobre o tema com ele? Encontre-o pelo Twitter.
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