Rogério Ceni já era um goleiro respeitado em 2004 e já estava na história do São Paulo. Sim, ele vinha sendo reconhecido por ser um goleiro que fazia gols, o que nunca foi comum, decidia campeonatos e ganhava seus títulos. Sim, ele fez tudo isso, mas não era o suficiente para receber o status de Deus que ele recebe hoje. Então vamos para o dia em que o mero mortal fez o primeiro de seus milagres, quando salvou o time de uma eliminação que seria em seu território favorito: A Taça Libertadores, da edição de 2004.
2004 – São Paulo 2x1 Rosário Central – A canonização
Como se sabe, 2004 foi o ano de algumas das maiores zebras da história do futebol. Quem imaginaria que a final da Liga dos Campeões desse ano seria Porto x Monaco, sendo conquistada pelos portugueses? E mais aleatório ainda, quem imaginaria que a Grécia ganharia uma Eurocopa em Portugal, calando o Estádio da Luz? Sim, 2004 foi um ano bem louco. Ainda mais que o surpreendente Once Caldas foi campeão da Libertadores desse ano, finalizando a cota de zebras do ano. Mas o texto não é pra falar sobre isso.
Antes de serem eliminado pelos colombianos nas semifinais, o Tricolor tinha pelas oitavas o time do Rosário Central, que se classificou como o quarto melhor dentre os times que passaram ocupando a segunda posição do seu grupo, somando 10 pontos e empatando com o Sporting Cristal, o time que teve a pior campanha dentre os classificados em primeiro lugar. Já o time brasileiro teve a segunda melhor campanha geral somando 15 pontos.
Jogo fácil certo? Errado. No duelo na Argentina, o torcedor que compareceu ao estádio pode comemorar apenas no finalzinho do jogo, graças a Gonzalo Belloso, complicando o jogo para o Sobeerano, que precisava vencer por dois gols de diferença. Vale lembrar que o regulamento de gol fora de casa não existia na época, ou seja, qualquer outra vitória por um gol de diferença levaria a partida para os pênaltis.
E a situação piorou ainda mais. Quando Germán Herrera, sim aquele, o quase-gol abriu o placar aos 6 minutos muita gente ja jogou a toalha. Podia piorar? Sim, podia.
Pênalti para o São Paulo e quem foi cobrar era o sempre decisivo e confiante Luis Fabiano. Sim eu menti e sim, o goleiro Gaona defendeu. Nem no rebote ele conseguiu empatar, após outra boa defesa do goleiro. O torcedor que pegou a toalha que jogou acima, arremessou novamente.
Mas calma, nem tudo está perdido, porque Grafite empatou o jogo no último lance do primeiro tempo e levou o Clube da Fé motivado para os vestiários. A obrigação era fazer mais um gol para pelo menos levar o jogo para as penalidades. E no segundo tempo, o gol veio, novamente dos pés de Grafite, que aproveitou a falha do goleiro que largou a bola nos pés do camisa 7, que todo atrapalhado, empurrou a bola pro fundo das redes. O jogo terminou com esse placar e não teve outro jeito, penalidades máximas.
E consequentemente a consagração do M1TO.
Na primeira cobrança do SPFC, Cicinho que teve o melhor aproveitamento nos treinamentos bateu e o goleiro defendeu, voltando a desacreditar o torcedor que lotou o Morumbi. Todas as outras cobranças foram bem executadas, incluindo a de Rogério Ceni, que teria a difícil missão de operar um milagre. Bastava defender o pênalti que seria batido pelo goleiro Gaona, bastava apenas isso e estaria consagrado o ato inexplicável.
E ele veio. O goleiro adversário bateu fraco e o nasceu o Deus, defendendo o pênalti e fazendo com que nem tudo estivesse perdido, porque as cobranças alternadas viriam. E Gabriel converteu o seu pênalti, batendo muito bem. Seria a vez de Irace tentar converter a sua cobrança e continuar com a sequência de cobranças.
Mas, mais uma vez, o ídolo estava lá. RC defendeu a cobrança e entrou pra história, classificando o São Paulo para as quartas de final. O choro do time foi praticamente coletivo, incluindo a do herói do dia, soterrado em uma montanha de jogadores que comemoravam a classificação. Um momento emocionante, que deveria ser narrado por Galvão Bueno. E foi! Como você pode ver, no vídeo abaixo, todas as cobranças do jogo na voz do marcante narrador.
Como dito nos primeiros parágrafos, a nossa campanha acabou nas semifinais, contra o Once Caldas, perdendo os dois jogos no placar agregado de 3 a 0. A aparente sorte de campeão então não pode ser considerada certo? Então, se isso não é sorte, só deve ser chamado de uma coisa: Um ato santo.
(Ah, a sorte estava guardada para o ano seguinte.)
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