[Midiáticos] Tributo aos que se foram


Ta aí, chegamos! É desta forma que, de quinze em quinze dias, iniciamos o "Batprugol", podcast do C11 que é divulgado no nosso canal do Youtube. E sou eu, Fábio Lázaro, dono deste "Ta aí, chegamos!" e apresentador do "Batprugol" que escrevo este texto, dando o pontapé inicial para a nova coluna do C11, o Midiáticos.

Pelo nome e bordão de abertura, vocês já devem ter percebido sobre o que a coluna abordará daqui pra frente. Sim, falaremos de mídia esportiva. A partir de hoje, o C11 abordará os principais causos e acontecimentos que envolvem o jornalismo esportivo no Brasil e no mundo. Críticas, elogios, curiosidades, gafes, histórias e, claro, muita zoeira, "digassi di passagi".

Entretanto, o primeiro texto desta coluna não terá nada de engraçado. Pelo contrário, infelizmente, o primeiro tema do Midiáticos faz-se reverente aos grandes jornalistas esportivos que deixaram este plano nesse ingrato 2014 para a imprensa esportiva nacional.

E o tributo é para eles.

A partir de agora, contaremos um pouco sobre a vida de cada um destes grandes nomes da mídia esportiva, para que você, caro leitor, compreenda o quão relevante eles foram no mundo do jornalismo esportivo brasileiro.

Com isso, num misto de alegria (por dar início a esta coluna) e pesar (pelo falecimento destes ícones), declaro o presente texto como um tributo a estes grandes que se foram.

Luciano do Valle

Não há palavras pra descrevê- lo. (Foto: Veja/Abril)
Luciando do Valle, Luciano do Volêi, Luciano da Indy, Luciano do Boxe, e por que não o Luciano do futebol, também?! Era o Luciano do Brasil. Luciano Vale. Valeu Luciano, valeu do Valle.

Como narrador, era incontestável, um dos maiores que já passou pelo nosso país (para mim, o melhor). Contudo, havia uma coisa que Luciano fazia melhor do que narrar - o que para muitos parecia ser impossível -: ele era o melhor brasileiro que poderia ser.

"Hoje em dia, depois de tantos anos de estrada, acho que estou imune às paixões. Gosto da Ponte (Preta), sim, foi a minha primeira paixão, mas hoje não encaro o futebol como torcedor. Torço pelo Brasil. A seleção brasileira realmente mexe comigo." - Luciano do Valle.

Era patritota, quase ufânico. Momentos inesquecíveis, como os gols de Zico, Falcão, Sócrates & Cia, na Copa do Mundo de 1982,  golaços e golaços da rainha Marta, os gols de Ronaldo no Corinthians... enfim, impossível listar todos sem esquecer de algum momento histórico e não se emocionar ao ouvir a narração de Luciano do Valle.

Além disso, Luciano era um visionário: ousou a trazer o domingo esportivo para a Rede Bandeirantes de Televisão, investindo em esportes outrora pouco difundidos no Brasil. Se hoje o nosso segundo esporte é o vôleibol, muito se deve a do Valle. Em 1983, tratado como um louco, Luciano do "Vôlei" promoveu "O Grande Desafio de Vôlei", colocando mais de 95 mil pessoas no Estádio do Maracanã para assistir uma partida entre Brasil e Rússia, numa quadra improvisada em meio ao gramado do futebol.

Fora que as lutas de boxe de Maguila, o Orange Ball (partidas de futebol americano que eram transmitidas nos primeiros dias de cada ano), a Fórmula Indy e tantos outros esportes e eventos só tiveram conhecimentos no Brasil graças a Luciano do Valle, que sabia como ninguém levar com sua voz estes momentos para o público em casa.

No ano passado (2013), Luciano completou 50 anos de carreira. No dia 13 de abril deste 2014, do Valle esteve no Estádio do Pacaembu para narrar a final do Campeonato Paulista entre Santos e ituano. No dia 19 de abril de 2014, a caminho da cidade mineira de Uberlândia, para a transmissão da rodada inicial do Campeonato Brasileiro, teve um mal súbito, que "do nada" calou uma das principais vozes da narração esportiva mundial.

Do Valle se foi aos 66 anos, deixando duas filhas, uma esposa e uma imensa legião de fãs espalahados pelo mundo todo.

Nascimento: 04/07/1947
Falecimento: 19/04/2014

Maurício Torres

Fique com Deus, Maurício. (Foto: globesporte.com)
Sua morte nos pegou de surpresa. Com 43 anos, Maurício Torres tinha pleno potencial para narrar muitos outros momentos de glória esportiva do Brasil em diversos esportes. Assim como Luciano do Valle, o cara era fera, tinha a capacidade de narrar com a mesma eficiênca todos os esportes. Do futebol ao curling, passando por vôlei, judô e até natação. Se foi muito cedo, também de repente, e machucou quem gosta de esporte.

Uma voz marcante que não tinha bordão específico, narrador que rompeu a barreira do "só narrar", já que gostava de apresentar também. Foi assim na Rede Globo, onde apresentava o bloco de esportes do "Bom Dia Brasil" e o "Globo Esporte"; foi assim na Rede Record, onde apresentava o "Esporte Fantástico" ao lado de Cláudia Reis e Mylena Ciribelli; foi assim até morrer.


Não tem mais o que escrever sobre Maurício Torres. Ele era uma cara do presente, com um futuro cada vez maior. Entretanto, o mesmo futuro acabou sendo interrompido por um mal súbito, indo gravar uma matéria para seu programa na Record. Infelizmente, ele se foi e nós ficamos órfãos de um "futuro-presente" da narração esportiva.


Nascimento: 14/02/1971
Falecimento: 31/05/2014

Dr. Osmar de Oliveira

Vá com Deus e vai Corinthians, Doutor. (Foto: Yahoo)

Alguém aí disse que o jornalista esportivo não pode assumir para que time torce? Sabe de nada, inocente! Não é, Dr. Osmar?

Dr. Osmar Soares Pereira de Oliveira, ou simplesmente Dr. Osmar de Oliveira, ou simplesmente Sport Clube Corinthians Paulista. A imagem perfeita de que não era só o coração do cara da marchinha que era corintiano, o coração do Doutor também era.

Talvez esse preconceito bobo de que jornalista esportivo não poderia assumir o seu time de coração, com o cidadão correndo o risco de perder sua credibilidade, fez com que Dr. Osmar não escolhesse primeiro o jornalismo. Osmar escolheu primeiramente a medicina, ganhou a patente de Doutor, quis o destino que se escrevesse dessa maneira.

Ortopedista conceituado, operou grandes nomes do esporte nacional como a dupla sagrada do basquete brasileiro, Hortência e Magic Paula, o tenista Fernando Meligeni (Fininho), o saltador João do Pulo e os jogadores Mirandinha, Ado e Tião. Fora que trabalhou como médico no São Bento de Sorocaba, Seleção Paulista e no seu clube do coração, o Corinthians.

Após construir sua carreira como médico, decidiu que, paralelamente a sua primeira profissão, ele se tornaria jornalista esportivo. Diplomado, Osmar conseguiu a proeza de trabalhar em absolutamente todas as emissoras de canal aberto com cabeça no estado de São Paulo.

Narador, comentarista e corintiano. Em gratidão por todo seu amor pelo clube alvinegro e pelos serviços fornecido ao Timão, em 2008, Dr. Osmar recebeu uma homenagem do clube no qual ele tanto amou. O CEPR (Centro de Preparação e Recuperação) do Corinthians, no Parque São Jorge, passaria a se chamar CEPROO (Centro de Preparação e Recuperção Osmar de Oliveira).

Sua participação no Jogo Aberto, programa esportivo matinal da Rede Bandeirantes, onde participava dos debates diários, foi a sua participação de maior relevância na TV. Geralmente ao lado de Ulisses Costa, Ronaldo Giovanelli, Denilson e da apresentadora Renata Fan, o doutor se destacava pelo seu jeito excêntrico, mas moderado. Provocava os companheiros de programa que torciam para alguma equipe que não fosse o seu Corinthians, mas de forma sutil, com classe, emitindo poucas palavras ou apenas frases de efeito. Mas ai de quem mexesse com o Corinthians do Doutor!

Em julho de 2013, Dr. Osmar sofreu um infarto no miocárdio. Se safou. Strike um! Sua volta ao programa, após um tempo afastado, foi bastante comemorada por todos da Band.

Já nesse ano de 2014, mais especificamente no mês de maio, foi detectado um tumor na próstata de Osmar. Internado no hospital AC Camargo, na grande São Paulo, Osmar de Oliveira teve um problema de coagulação no sangue durante a cirurgia de retirada do tumor, o que acabou o levando a óbito.

Osmar se foi, mas a paixão corinthiana, o ufanismo dos habitantes da República Democrática do Corinthians, a loucura do bando continuará e tem como principal representação em terra, Dr. Osmar Soares Pereira de Oliveira, ou simplesmente Sport Clube Corinthians Paulista.


Nascimento: 20/06/1943

Falecimento: 11/07/2014

Michel Laurence

Laurence, a bola que você merece vai além da prata. (Foto: Sportv)

Um dos maiores cronistas esportivos de todos os tempos, Michel Laurence era completo. Escrevia, falava, comentava e cornetava futebol com extrema eficácia. Só para termos uma noção de quem foi Laurence no ramo do jornalismo esportivo brasileiro, ele esteve na equipe fundadora da Revista Placar, na década de 70, a melhor da história deste país.

Sabe o "Troféu Bola de Prata", da Placar? Foi ele quem criou. Sabe o programa "Grandes Momentos do Esporte", da TV Cultura? Também foi criação de Michel Laurence.

Foi o pioneiro em expor criticas ao modelo do futebol brasileiro, quando pelo Jornal da Tarde publicou a matéria "O jogador é um Escravo". Este texto, por sinal, escrito em parceira com seu amigo, José Maria de Aquino, lhes rendeu um "Prêmio Esso de Jornalismo".

Foi a Laurence que Pelé forneceu a sua última entrevista como jogador do Santos. Sua amizade com o rei do futebol era tão grande que uma das melhores definições de Edson Arantes do Nascimento foi de Michel Laurence, que disse:

"Nele os "truques" eram incontáveis e todos de uma genialidade difícil de narrar. A paradinha na cobrança de um pênalti; subir para cabecear com os cotovelos abertos e se protegendo dos adversários; a tabelinha com Coutinho e com as canelas dos marcadores; a matada de bola que ficava grudada no peito e lhe permitia girar para um lado ou o outro sem que os marcadores tivessem como lhe roubar a bola. E um sem número de outros "truques" talvez mais conhecidos."


Fora os já citados Jornal da Tarde e Revista Placar, Laurence também escreveu para o "Última Hora" e "Jornal do Brasil". Já na TV, fez parte de emissoras como: Rede Globo, Bandeirantes, Manchete e TV Cultura. Na última, trabalhou até o fim da sua vida, quando saindo 
do banheiro da própria emissora em um dia normal de trabalho, sofreu uma queda leve e teve de ser levado ao hospital São Camilo na grande São Paulo para engessamento do braço. Contudo, para não ficar muito tempo afastado do serviço, Michel preferiu passar por cirurgia simples para rápida cicatrização, mas foi justamente nesta cirurgia que Michel Laurence teve uma infecção generalizada e acabou falecendo. 

Aos 76 anos, Michel Laurence se foi. Deixou um legado maravilhoso para o jornalismo esportivo do Brasil. Fora que, além de seu jeito de fazer jornalismos e suas matérias publicadas, Michel deixa em terra os seus filhos e também jornalistas Bruno Laurence (um dos principais repórteres da Rede Globo) e Gerrard Laurence (comentarista do canal Combate, do pay per view da Globosat). 


Nascimento: 05/09/1938

Falecimento: 25/10/2014

E este foi o Midiáticos.

Redes sociais do C11:

C11 no Facebook
C11 no Youtube
C11 no Google Plus
C11 no seu coração 
Compartilhar no Google Plus

Autor: fábio

    comentar com Facebook