Rogério Ceni - Relembrando os sucessos de uma trajetória #8

A Libertadores foi conquistada alguns meses atrás. Agora, era a hora do jogo mais importante do São Paulo em muitos anos, aquela que poderia ser a maior glória de Rogério Ceni pelo Tricolor. O próprio já declarou que o clube do Morumbi era a sua verdadeira seleção, então era chegada a hora de conquistar a sua verdadeira Copa do Mundo, no mesmo lugar onde ele conquistou a mesma taça com a Seleção, mesmo que sendo reserva de Marcos. Depois de marcar seus gols, decidir campeonatos, fazer milagres, depois de tantos fatos, era a hora de Rogério se afirmar como um dos maiores ídolos do maior clube do país.

2005 - São Paulo 1x0 Liverpool – O mundo



O Japão iria sediar pela primeira vez desde 2000 (segundo a FIFA, porque para nós, aquilo não deveria contar) o Mundial de Clubes, reunindo os campeões continentais do ano de 2005. O São Paulo iria representar a América do Sul, após bater o Atlético-PR na final da Taça Libertadores da América. Os maiores adversários viriam da Europa, o poderoso Liverpool, com Gerrard, Luis García, Xabi Alonso, Pepe Reina, Jamie Carragher, Peter Crouch e outros. Vale lembrar que esse foi o time daquela histórica decisão de Istambul, onde os Reds perdiam por 3x0 no primeiro tempo, conseguiram virar e levaram a taça nos pênaltis.

Já o São Paulo tinha como triunfos jogadores como Amoroso, Danilo, Aloísio (recém trazido do Atlético vice campeão sul-americano), Fabão, Cicinho, Lugano e é claro, o nosso capitão. Todos treinados por Paulo Autuori, que teve uma péssima passagem ano passado, mas já tem seu nome gravado na história. Mas antes desse esperado confronto entre Brasil e Inglaterra, as semifinais precisavam ser jogadas. E é lá que encontramos o nosso primeiro adversário, o Al-Ittihad da Arábia Saudita.

E no dia 14 de dezembro, no frio japonês, o mundo novamente prestaria atenção no Tricolor, depois daquele bicampeonato em 92-93, time que conquistou o mundo, não só pelo título, mas pela plasticidade do futebol aplicado pelo mestre Telê. Os sauditas, desconhecidos do público até então, eram motivos de chacota e que seria um fácil jogo para o Tricolor. Mas sem sofrimento não tem graça e é óbvio que aquele jogo foi um aperto para todos os são paulinos do planeta.

O grande nome do jogo foi um personagem que teve uma semana um tanto conturbada. Amoroso, que teve um pré-contrato assinado com o Tokyo FC revelado durante a semana, tirou o então presidente Marcelo Portugal Gouvêa, que chegou a tratar o jogador como um ex-jogador do clube. Em campo porém, o camisa 11 foi profissional e abriu o placar aos 16, mesmo que os sauditas estivessem pressionando durante aquele momento do jogo e mostrando uma eficiente marcação sob pressão e muita força física. Com isso, o empate acabou aparecendo graças a Mohammed Noor.

Voltando do intervalo, o time veio determinado a garantir a vaga na final e Amoroso novamente guardou o seu, botando o time brasileiro em vantagem. E eis que RC alcançaria mais uma marca em sua irretocável carreira. Aos 12 minutos do segundo tempo, Aloísio foi derrubado na área e o juiz francês Alain Sars marcou pênalti. Rogério converteu e se tornou o primeiro goleiro da história a marcar em um torneio da FIFA.

O Al-Ittihad ainda descontou com Al Montashari, após escanteio do brasileiro Tcheco (sim, aquele). O jogo permaneceu truncado e com muitas faltas, mas mesmo com a pressão adversária, o Soberano conseguiu se segurar e se classificou para a final, para fazer a tão sonhada partida contra o Liverpool, que venceu facilmente o Deportivo Saprissa por 3 a 0.

Vale citar um fato: Os Reds vinham com uma incrível sequência de 11 jogos sem tomar gol, tornando-os quase imbatíveis. E com isso, o nervosismo foi visível no São Paulo. Os espanhóis Morientes e Luis García tiveram as primeiras chances de abrir o placar, mas não foram aproveitadas.

Porém, o time se estabilizou e as impressões do que poderia ser um massacre foram sumindo com o tempo. O SPFC chegou a ameaçar com Amoroso em tabela com Aloísio, mas Reina defendeu o fraco chute.

E então veio o gol.

Aos 26 minutos, em bola lançada, Aloísio domina e dá um passe magistral para Mineiro sair na cara de Reina e acabar com os mais de 1000 minutos sem tomar gol do Liverpool. Um gigante havia caído e o outro finalmente levantado. O desafio agora era se manter de pé e aguentar a pressão dos ingleses. Mas antes, vamos acompanhar a incrível narração de Galvão Bueno.



A pressão foi enorme, a qualquer momento parecia que os ingleses poderiam empatar o jogo. E se vocês permitem me dizer, queria declarar que durante esse período do jogo a energia elétrica do meu bairro caiu, ou seja, ninguém conseguia ver o jogo.
E a pressão foi algo surreal. Aos 28, Luis García cabeceou no travessão, levando ao desespero os Tricolores ao redor do mundo, na grande chance dos Reds no primeiro tempo. Indo para o intervalo com o placar ao seu favor, o time precisava segurar mais 45 minutos para se sagrar campeão, então Paulo Autuori fechou o time na defesa durante o segundo tempo, onde vieram os lances mais polêmicos do jogo.

Aos 15 do segundo tempo, Luis García empatou o jogo. Desespero, tiristeza, desilusão... Mas o juiz marcou o correto impedimento, mesmo com muita reclamação do time de Merseyside. Seis minutos mais tarde, Hyppiã empatou novamente, mas o próprio camisa 10 espanhol acabou cometendo uma falta em Rogério Ceni, anulando novamente o gol. Por fim, aos 44, o francês Sinama Pongole marcou outro gol, irregular novamente, graças a impedimento alegado pela arbitragem mexicana.

Mas como se sabe, o grande momento da final foi protagonizado pelo herói do nosso texto. Com seis minutos do segundo tempo, antes de todos esses gols anulados, aconteceu o duelo dos capitães. Steven Gerrard teria a chance de empatar em cobrança de falta, ele que sempre foi conhecido pela força na perna e por cobrar faltas com perfeição. Essa foi mais uma, mas lá estava Ele, se esticando todo em uma bola que iria no ângulo. Uma defesa que entraria pra história, que tirou um dos gols de falta mais bonitos que eu poderia ver. Uma defesa que fez com que Rogério Ceni garantisse o título. Outra vez, Galvão explica pra nós como foi o lance.



O goleiro-artilheiro fez outras grandes defesas, impedindo o Liverpool de se sagrar o campeão. Final de jogo e São Paulo Futebol Clube campeão do mundo. Campeão em cima de um adversário imbatível, que não tomava gols a 11 jogos, que teve uma grande história de superação na final da Champions League. Campeão com um goleiro que é um dos maiores ídolos da história de um clube do futebol nacional, talvez o maior. Campeão com um time que mereceu ser campeão, que apesar do sufoco, soube das suas limitações e pode erguer a taça.


Rogério e o São Paulo estavam em alta. Todo aquele esforço valeu a pena e aquele final de 2005 entrou pra história do Tricolor. Mas os anos dourados ainda rodeavam o Morumbi. Porém, isso eu deixo para a próxima sexta-feira.

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Autor: Allan Jones

Projeto de hipster que vive negando o rótulo. Viciado em música boa e em esportes de qualidade. Atleti desde 2008 (chupem modinhas), Chelsea, 49ers, Celtics e claro, o São Paulo, o que interessa no final das contas. Escritor do C11 e do Britfoot.
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