Cenas lamentáveis, adolescente em campo e surpresas marcam Eliminatórias da Eurocopa 2016


Passada a epopeia da Copa do Mundo no Brasil, a competição de seleções que momentaneamente fica na berlinda são as Eliminatórias para a Eurocopa de 2016. A fase qualificatória da competição mais importante envolvendo as seleções do Velho Continente tem uma novidade que foi muito bem recebida pelas federações filiadas à Uefa: o número de vagas aumentou de 16 para 24. Portanto, mais chances para se classificar à fase final da Euro, a qual será sediada na França - portanto, os franceses já têm vaga garantida no torneio. Avançam diretamente à UEFA Euro os líderes e vice-líderes de cada grupo, além do melhor terceiro colocado. Os terceiros colocados restantes decidem seu destino na repescagem.

Outra novidade é a presença de Gibraltar, seleção recentemente reconhecida como membro da Uefa, entre as postulantes às vagas. Quer dizer, não é bem uma postulante... Contando em sua maioria com jogadores amadores ou semi-profissionais, a "caçula" das seleções europeias, que vem mandando seus jogos no Estádio do Algarve, em Portugal, foi massacrada em suas primeiras partidas: tomou 7 a 0 da Polônia, foi derrotada pelo mesmo placar pela Irlanda e sucumbiu diante da Geórgia por 3 a 0. Com 17 gols sofridos e nenhum marcado, Gibraltar é a lanterna do Grupo D, sem qualquer ponto somado. Imagina quando enfrentarem a Alemanha... Aliás, esse duelo ocorre já no dia 14 do próximo mês.

Contra a Irlanda, em Dublin, o goleiro Jordan Perez foi a principal atração. Fez gol contra, cometeu pênalti e foi substituído quando o placar já era de 6 a 0. Neste momento, foi aplaudido pela torcida local. Seja por ironia, por reconhecimento pelo esforço ou simplesmente por piedade, a verdade é que o arqueiro caiu nas graças dos adeptos irlandeses. E como descrever seu gol contra? Pois bem, vejam com seus próprios olhos, porque é difícil de acreditar.


Já que falamos de um dos bonus stages das Eliminatórias - não se esqueçam das existências de Andorra, Malta, Ilhas Faroe e San Marino, que também somam três derrotas em três jogos -, vamos agora para a maior sensação do momento: a seleção da Islândia, aquele país gelado do Atlântico Norte que fica perto da Groenlândia. Os islandeses, por muito pouco, não foram para a Copa do Mundo de 2014. Acabaram sendo eliminados pela Croácia na repescagem. Para quem achava que aquela campanha era só "fogo de palha", a resposta vem sendo dada neste início de qualificação para a Eurocopa: três vitórias em três jogos. E não foram vitórias "no aborto", foram triunfos com extrema autoridade: 3 a 0 sobre a Turquia em casa, 3 a 0 sobre a Letônia fora de casa e 2 a 0 sobre a Holanda, terceira colocada do último Mundial, em casa.

O ótimo trabalho de base na Islândia vem rendendo frutos, e fica a torcida para que o pique de Sigurdsson (fez os dois gols contra a Holanda), Sigthorsson e cia. seja mantido. E há uma coisa em comum com o Brasil: os jogadores saem de lá muito cedo. A lenda viva Gudjohnsen, ex-Barcelona, viu o crescimento desses meninos de perto. Ele já pendurou as chuteiras e, de longe, torce para que essa ZEBRA GELADA trilhe caminhos jamais alcançados. Se vai chegar a uma Copa do Mundo, aí já são outros quinhentos, mas uma ida para uma Euro já seria um feito e tanto, digno de feriado nacional.
AFP/Getty Images

No momento, os islandeses dividem a liderança do Grupo A com a República Tcheca. Elas se enfrentam em 16 de novembro, em território tcheco. A Holanda, agora treinada por Guus Hiddink, é apenas a terceira colocada, com três pontos - a vitória sobre o Cazaquistão foi de virada, e veio somente depois que os cazaques ficaram com um jogador a menos, ou seja, a Oranje está deixando muito a desejar.

Continuando a falar sobre os países nórdicos, desembarcamos agora na Noruega. Com duas vitórias (3 a 0 sobre Malta e 2 a 1 sobre a Bulgária) e uma derrota (2 a 0 para a Itália) em três jogos, os noruegueses militam na terceira posição do Grupo H. Em 16/11, visitam o Azerbaijão, lanterna da chave com nenhum ponto somado.

Um entre os convocados da Norge para os dois últimos compromissos é mais novo do que muitos que estão lendo esta postagem. Na última segunda-feira (13), o meia Martin Odegaard, de 15 anos, fez história ao substituir o companheiro de posição Mats Møller Dæhli, quando eram decorridos 19 minutos do segundo tempo. Odegaard, que joga no Strømsgodset, atual campeão de seu país, tornou-se o jogador europeu mais jovem a atuar em uma partida oficial. O garoto vem sendo um dos destaques do campeonato nacional e já chamou a atenção de clubes como Manchester United, Liverpool, Barcelona, Real Madrid e Bayern de Munique. Olha a moral do rapaz...


O recorde anterior pertencia a Ronny Büchel, que em 1998 estreou na seleção de Liechtenstein com 16 anos. Hoje, Büchel é treinador e jogador do FC Ruggell, clube do principado onde nasceu.

Veja os lances que tornam Martin Odegaard a mais nova sensação do futebol norueguês:


Mas e a Alemanha, hein? Atual campeã mundial e exemplo na formação de jogadores de base, a Nationalelf anda mal das pernas. Suou para vencer a Escócia em Dortmund, na estreia, e vem de dois tropeços: 2 a 0 para a Polônia, em Varsóvia, e 1 a 1 com a Irlanda, em Gelsenkirchen.

O revés para os poloneses, que teve até falha do goleiro Manuel Neuer, eleito o melhor da última Copa do Mundo, foi o primeiro da história do confronto, para se ter noção da dimensão do resultado. Foi muito justa a festa feita pelos adeptos da Polska durante e depois do embate. O jogo contra a Irlanda foi mais dramático ainda: os alemães venciam por 1 a 0, gol de Toni Kroos, até os 49 minutos do segundo tempo (!!!!!), momento em que O'Shea, aquele mesmo, ex-Manchester United, empatou e deu aos irlandeses um pontinho para lá de precioso.

Os comandados de Joachim Löw somam apenas quatro pontos e só estão em terceiro - posto que os colocaria na repescagem - porque levam vantagem sobre a Escócia no primeiro critério de desempate: o confronto direto. Parecia que os germânicos liderariam o grupo com sobras, mas eles estão dando bastante emoção à chave... A imprevisibilidade do futebol é uma coisa linda.
Neuer "caçando borboletas" no lance do primeiro gol da Polônia (Foto: Bongarts)

E quem disse que futebol europeu não tem CENAS LAMENTÁVEIS™? Ah, tem sim! Costumo dizer que o Leste Europeu é a parte Libertadores do Velho Continente, e Sérvia e Albânia fizeram justiça à minha tese na terça-feira (14). Temia-se que alguma confusão ocorresse em Belgrado - por que diabos a Uefa não proibiu as duas seleções de integrarem o mesmo grupo, como faz com Gibraltar e Espanha, Geórgia e Rússia, Azerbaijão e Armênia, e como deve fazer com Ucrânia e Rússia, hein? -, e não deu outra.

O motivo foi o mais bizarro possível: um drone com uma bandeira da Albânia foi colocado dentro de campo. Mitrovic, jogador da Sérvia, se prontificou a tirar o artefato do gramado, para não atrapalhar o andamento da peleja, que estava empatada em 0 a 0, aos 41 minutos da primeira etapa. E quem disse que os albaneses gostaram? Pois bem, a partir daí começou uma confusão generalizada.

Jogadores brigando, torcedores invadindo o gramado, conflitos com policiais, bombas... Integrantes da seleção da Albânia foram agredidos por torcedores sérvios. Nem a proibição da presença da torcida visitante evitou qualquer treta. Aliás, isso leva a crer que o drone foi arremessado fora do estádio.
Reprodução/ESPN

A partida foi suspensa e ainda não se sabe o que a Uefa fará. Enquanto isso, jogadores da Albânia foram recebidos com festa no Aeroporto Madre Teresa, na capital Tirana. Os albaneses estão confiantes numa possível decisão da Uefa de lhes dar os três pontos, tendo em vista a agressão que sofreram dos torcedores da Sérvia em Belgrado.

"Não importa se vamos nos classificar (para a Eurocopa) ou não. O que importa é vencer a Sérvia", disse o torcedor Astrit Kushi, em entrevista à Agência EFE. A partir daí temos noção do tamanho da rivalidade.

Os jornais do país possuíam manchetes com tons extremamente ufanistas, como "Sérvia e Albânia, a batalha pela bandeira. Os símbolos albaneses descem do céu e enlouquecem os torcedores", "Belgrado 'rubro-negro'. Bandeira no céu, violência no estádio", e "Vitória pela bandeira". O jornal Shqip ilustrou sua manchete (a primeira que foi apresentada) com uma foto do mapa vermelho da Grande Albânia, que também compreende o Kosovo e partes de Montenegro, Macedônia e Grécia.
Capa do Jornal "Shqip" desta quarta-feira (15/10/2014); os dois homens presentes na bandeira são Ismail Qemali (à esquerda), primeiro Chefe de Estado da história da Albânia, e Isa Boletini (à direita), guerrilheiro que lutou pela independência do país (Foto: Reprodução)

Mesmo com esse jogo a menos, a Albânia segue, para a surpresa de muitos, liderando o Grupo I. Não de forma isolada, pois detém a mesma pontuação da Dinamarca (quatro pontos), porém é muito grata a Portugal pelo fato de os lusitanos terem vencido os dinamarqueses em plena Copenhague por 1 a 0, também nesta terça. O gol saiu no apagar das luzes, aos 50 minutos do segundo tempo (!!!!!), em cabeçada do craque Cristiano Ronaldo, atual dono da Bola de Ouro.

Por último, porém não menos importante, há de se destacar as boas campanhas iniciais de País de Gales e Irlanda do Norte, seleções britâncias que vivem no ostracismo há tempos.

Gales, que conta com os craques Gareth Bale e Aaron Ramsey, vem liderando o Grupo B com sete pontos, um à frente de Israel e Bélgica, que têm um jogo a menos - é o confronto entre si mesmos, adiado para março de 2015 por conta da escalada de violência entre israelenses e palestinos em Israel. Venceu Andorra e Chipre, ambos por 2 a 1 - longe de casa e em seus domínios, respectivamente -, e empatou sem gols, em casa, com a Bósnia-Herzegovina. Em 16 de novembro, visita a Bélgica - a Ótima Geração Belga™. Se sair de lá com um empate, já pode se dar por satisfeita.

Já a Northern Ireland vem quebrando barreiras: venceu três partidas seguidas pela primeira vez numa Eliminatória de Eurocopa e está na ponta do Grupo F. Fez 2 a 1 na Hungria (fora), 2 a 0 nas Ilhas Faroe (em casa) e 2 a 0 na Grécia (fora) - pelo visto, descobriram o mapa da mina do famoso catenaccio grego; os helênicos estão na vice-lanterna da chave. No dia 14 do próximo mês, a adversária será a Romênia, vice-líder do grupo com sete pontos, fora de casa. O popular "jogo de seis pontos".

Seleções do País de Gales (vermelho) e da Irlanda do Norte (verde) vão superando as expectativas de seus torcedores (Fotos: Getty Images) 

Achou que parou por aí? Nada disso. Eu não poderia deixar de falar de outra seleção com 100% de aproveitamento: a Eslováquia. A exemplo da vizinha República Tcheca, os eslovacos também estão fazendo bonito. Já nas duas primeiras rodadas, dois triunfos memoráveis: 1 a 0 sobre a Ucrânia, em plena Kiev, e 2 a 1 em cima da Espanha, em Bratislava, com direito a falha do renomado goleiro Casillas - que, vamos combinar, está longe de viver boa fase. Os espanhóis, campeões mundiais em 2010, não eram derrotados em Eliminatórias há oito anos.


Na terceira rodada, a seleção de Hamsik, Weiss, Kucka e cia. bateu, longe de seus domínios, a Bielorrússia por 3 a 1. Com os nove pontos, três à frente de Espanha e Ucrânia, milita na dianteira do Grupo C. No dia 15/11, visita a Macedônia. Se der a lógica (é importante ressaltar o "se", pois sabemos como é o futebol), sairá do ex-território iugoslavo com mais três pontos.

Confira a classificação dos grupos das Eliminatórias da Eurocopa de 2016, após três rodadas realizadas

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Autor: Luís Francisco Prates

Náutico, Borussia Mönchengladbach e Benfica. Pernambucano, 20 anos, cristão e estudante de Jornalismo.
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