De um tempo em que a felicidade era rotina

Vasco comemora o tetracampeonato brasileiro (Foto: UOL)
Há exatos 14 anos, um time de indiscutível capacidade técnica e com absurda força de vontade levava para São Januário mais um título: o de tetracampeão brasileiro. A equipe tinha jogadores do quilate de Hélton, Jorginho, Júnior Baiano, Mauro Galvão, Juninho(s), Euller, Viola e ele, sempre ele, Romário. Aquele time colecionou resultados expressivos e ganhou títulos com a autoridade de quem sabia que era superior.

Mas, o título brasileiro veio acompanhado de uma série de eventos que só tornaram-no mais saboroso. Ainda nas semifinais do campeonato, contra o Cruzeiro, o então técnico do Vasco Oswaldo de Oliveira brigou com o recém-eleito presidente Eurico Miranda, que o demitiu. O momento não era oportuno, pois a equipe tinha empatado em casa contra o time de Minas e precisava vencer para chegar a final.

Após três dias, Eurico trouxe Joel Santana, um dos seus homens de confiança, para comandar a equipe na reta final. Mas antes do Cruzeiro os comandados do "Papai" teriam que lidar com outra decisão: a Copa Mercosul. O Vasco enfrentaria o Palmeiras pelo terceiro jogo (Isso mesmo, eram três jogos) da final e tinha que vencer para garantir mais um título inédito. O final vocês já sabem. Jogo nervoso, virada histórica, 4x3 para o Gigante da Colina e Mercosul em São Januário.

O time não poderia relaxar, afinal de contas, ainda tinha o Cruzeiro pela frente, num Mineirão lotado. Mas Vasco tratou de mostrar que podia ganhar tudo. Numa cobrança de falta magistral, quase na lateral de campo, Juninho Pernambucano mandou no ângulo esquerdo do goleiro Fabiano. A resposta cruzeirense foi rápida e os mineiros empataram numa cabeçada de Sorín.

Só que quem tinha Euller e Romário na frente tinha tudo. Em jogadaça do Filho do Vento, Cléber ficou comendo poeira e o mineirinho de Felixlândia virou o jogo para o Vasco. No finalzinho, Romário, sempre ele, recebe de Jorginho Paulista, dribla Fabiano como se fosse a coisa mais fácil do mundo e toca pro gol vazio, golaço de quem sabia tudo. 3x1, e era a vez do São Caetano.

A equipe do ABC Paulista era a sensação do campeonato. Como previsto no regulamento louco da Copa João Havelange, os melhores times de cada módulo inferior subiriam para o módulo da elite para jogar o mata-mata e disputar o título nacional. Por ser um time pequeno e que não demonstrava ter medo dos gigantes, eliminando Fluminense, Palmeiras e Grêmio, ganhou o carinho da mídia e do país.

Com um país quase inteiro torcendo a favor, o Azulão foi para cima do Vasco e abriu o placar nos minutos iniciais, em ótima jogada de Wagner e um torpedo de César que deixou Hélton sem ação. Mas, Romário também provou que sabia pegar forte na bola. Em troca de passes dentro da área, o Baixinho chutou com ódio, que foi rasteira, queimando a grama e morrendo no cantinho do gol.

A decisão seria em São Januário, casa cheia, torcida no cangote do adversário. Era o clima perfeito para uma final. Era. Aos 20 minutos de jogo, o alambrado do estádio, superlotado, cai. Os torcedores vão junto, amontoados, feridos, e foram atendidos no gramado mesmo.

Enquanto isso, Eurico Miranda tentava esvaziar o gramado o mais rápido possível, sem se importar muitos com os feridos. Porém, mas os esforços foram em vão. O governador do Rio na época Anthony Garotinho ordenou o cancelamento do jogo, remarcado para o dia 18 de janeiro de 2001, para desespero do presidente vascaíno que o chamou de "frouxo e incompetente". Depois do show de horrores, o mandatário ainda estamparia as capas dos jornais por mais uma polêmica.

Eurico viu seu nome envolvido na CPI do Futebol, junto ao de presidentes de clubes, de federações estaduais, do presidente da CBF Ricardo Teixeira e até mesmo da fornecedora de materiais esportivos da seleção brasileira. As acusações iam de lavagem de dinheiro a utilização indevida de capital financeiro da Confederação. O caso foi amplamente divulgado na mídia, principalmente na Rede Globo, o que motivou um dos momentos mais marcantes da história dos campeonatos brasileiros.

O dia do "Ah, é Sílvio Santos" ficou para a história (Foto: Jorge Araújo/ Folha Imagem)
Num 18 de janeiro como hoje, numa tarde de terça-feira, Vasco e São Caetano decidiriam o título nacional do ano anterior. Com estádio corretamente lotado, as duas equipes entravam em campo. Mas tinha algo diferente na camisa vascaína. Não era pra existir o patrocínio de uma marca de sabão em pó ali no lado direito? Não para Eurico Miranda.

A equipe entrava em campo com o símbolo da maior rival da Rede Globo no final dos anos 90 para o início dos anos 2000: o SBT. Eurico se vingou da poderosa emissora da maneira mais sublime possível, forçando-a a exibir o logo do canal paulista durante 90 longos minutos, sem contar uma possível festa do título ou até uma decisão por pênaltis.

Nunca a torcida vascaína se divertiu tanto numa partida, cantando músicas exaltando o "patrocinador" e empurrando time que fez uma partida quase perfeita. O Vasco abriu o placar com um golaço de Juninho Pernambucano, que não chegou a comemorar em seu último jogo antes de fazer história no Lyon. Adãozinho chegou a empatar, mas não tinha como tirar o título do Gigante da Colina.

Em bola enfiada, Jorginho Paulista dominou e, caído, tocou para o gol de Sílvio Luiz. O título parecia questão de tempo, mas ainda faltava alguma coisa. Faltava Romário. E o maior 11 de todos não decepcionou: recebeu na entrada da área, ganhou do zagueiro do São Caetano e tocou para o gol com a serenidade de sempre. 3x1 e o tetra era nosso.

Hoje, 14 anos depois, o Vasco perde para o Volta Redonda em jogo-treino de início de temporada e não temos nem um terço da confiança que tínhamos naquele timaço de 2000/2001, que poderia virar jogos impossíveis, ganhar de tudo e de todos e fazer a imensa torcida mais feliz. Esperamos por um tempo onde a felicidade volte a ser rotineira.

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Autor: Pedro Chagas

Blogueiro do C11, vascaíno, cristão, pseudo-treinador no Football Manager, um apaixonado por Deus, por futebol e pelo mar!
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