Japão quer fazer história em terras brasileiras

Japão foi a primeira seleção classificada para a Copa do Mundo via Eliminatórias: passaporte foi carimbado após empate em 1 a 1 com a Austrália em Saitama (Foto: Toshifumi Kitamura/AFP)
A contribuição de Zico para o futebol japonês é inegável. Desde que o "Galinho" ajudou a aprimorar tal modalidade no pequeno arquipélago asiático - treinou a seleção na Copa de 2006, inclusive -, o Japão vem sendo presença constante em Copas do Mundo. Participou pela primeira vez em 1998 e, de lá para cá, não ficou mais ausente. A Copa no Brasil será a quinta da história do selecionado nipônico. Diferente da primeira participação, quando fizeram figuração, os japoneses vêm evoluindo no futebol a cada ano e em 2014 despontam como candidatos a uma agradável surpresa.

O Japão está no Grupo C juntamente com Colômbia, Costa do Marfim e Grécia. Adversários de três continentes diferentes. Melhor para os asiáticos mostrarem que estão preparados para o Mundial e não vieram às terras tupiniquins apenas para serem figurantes. Mas eles sabem que não terão facilidade alguma, tendo em vista que a chave é uma das mais equilibradas da Copa.

Nas Eliminatórias, os nipônicos, estando entre os asiáticos com as melhores colocações no ranking da Fifa - a propósito, são os líderes do continente -, entraram logo na terceira fase. Tiveram uma certa dificuldade no Grupo C, mas conseguiram se classificar para a quarta e última fase. Somaram 10 pontos, atrás somente do promissor Uzbequistão (16) e à frente da Coreia do Norte (7) e do Tadjiquistão (1). No estágio seguinte, as dificuldades foram poucas e os comandados de Antonio Zaccheroni sobraram no Grupo B. Com 17 pontos, superaram Austrália (13), Jordânia (9), Omã (8) e Iraque (5).

Os principais jogadores do plantel são jovens que vêm despontando no futebol europeu. Na defesa, Uchida (26), do Schalke 04, Nagatomo (27), da Internazionale, e Sakai (24), do Hannover, são os nomes com mais apelo. Do meio para frente, destacam-se os meias Kagawa (25), do Manchester United, Honda (27), do Milan, e Kiyotake (24), do Nuremberg, e o atacante Okazaki (28), do Mainz.

Kagawa é o camisa 10 e principal jogador da seleção japonesa (Foto: Maxppp/Sportsphoto)
Os mais experientes são o meia Endo (34), do Gamba Osaka, o zagueiro Konno (31), do Gamba Osaka, o atacante Okubo (31), do Kawasaki Frontale, e o goleiro Kawashima (31), do Standard Liège. Juntos, os quatro contabilizam 338 jogos pela seleção (144, 81, 57 e 56, respectivamente). Também vale destacar o meia Hasebe (30), capitão dos Samurais e destaque do Eintracht Freankfurt. Ele já defendeu o selecionado japonês em 78 partidas.

Aliando juventude com experiência, Zaccheroni quer ajudar o Japão a fazer história em solo brasileiro e apagar a má impressão deixada na Copa das Confederações de 2013, quando a equipe foi derrotada nos três confrontos da primeira fase (3 a 0 Brasil, 4 a 3 Itália e 2 a 1 México) e deu adeus precocemente.

Além do mais, já passou da hora de ser aquela seleção que manda em sua casa, mas fora dela só leva desaforo: os japoneses são os maiores campeões da Copa da Ásia com quatro títulos e em Copas do Mundo jamais passaram das oitavas-de-final - eliminados nessa fase para a Turquia em 2002, quando sediou o evento com a Coreia do Sul, e para o Paraguai em 2010, na África do Sul.

- Ponto forte: É clichê falar isso, mas a seleção japonesa contém jogadores velozes. O preparo físico, evidentemente, ajuda bastante. Porém, o potencial dos asiáticos vai muito além. Com atletas habilidosos e que chamam a responsabilidade para si, não é de surpreender que os japoneses estejam "invadindo" cada vez mais o futebol europeu. Dos 23 convocados, 12 atuam no Velho Continente, sendo sete na Alemanha, dois na Itália, dois na Inglaterra e um na Bélgica - os outros 11 são do futebol local. E se eles atendem aos requisitos exigidos pelos expressivos campeonatos da Europa, é porque têm capacidade de sobra para encherem os olhos dos torcedores no Mundial.

- Ponto fraco: Ao mesmo tempo em que os japoneses possuem notáveis qualidades, terão imensas dificuldades para enfrentarem no Brasil. Além dos adversários dentro de campo, algo com o qual os nipônicos terão que bater de frente é a diferença gigantesca do fuso horário: 12 horas a mais em relação ao Brasil. Mas e no futebol? Pois bem, com um estilo de jogo baseado em muitas trocas de passe, isso pode ser visto como algo positivo - e é -, mas tem seu lado negativo também. Ao trocar muitos passes - e os japoneses chegam a fazer isso mais do que devem -, o número de finalizações fica limitado e o ataque improdutivo. Outra barreira pode ser a limitação técnica - afinal, o Japão não é nenhuma potência no futebol. Talvez não seja um grande problema numa chave tão nivelada como o Grupo C, mas vale trabalhar esse lado. Em caso de classificação para o mata-mata, virão seleções mais temidas.

Analisando todos esses fatores, não é nenhum absurdo falar que o Japão pode fazer uma campanha digna na Copa do Mundo de 2014 e cair nas graças da torcida brasileira. Se fizerem um jogo como a derrota de 4 a 3 para a Itália na última Copa das Confederações, partida a qual tive o privilégio de ver na Arena Pernambuco, então... (para eles só interessa a vitória, claro)

No comando desde agosto de 2010, logo após a Copa na África do Sul, o italiano Alberto Zaccheroni, de 61 anos, levou o Japão ao título da Copa da Ásia de 2011 - venceu a Austrália, seleção da Oceania que disputa competições asiáticas, por 1 a 0 na final - e a mais uma apuração para uma Copa do Mundo - conquistada diante da Austrália também, após empate em 1 a 1.

Treinou o selecionado em 56 partidas e viu do banco 34 vitórias, 11 empates e 11 derrotas. O aproveitamento superior a 60% é o melhor da sua carreira na área técnica. A seleção do Japão é a sua primeira experiência internacional como técnico. Antes, Zaccheroni havia treinado times como Udinese, Milan, Lazio, Internazionale, Torino e Juventus, todos italianos.

Acostumado a exportar jogadores nos últimos anos, o Japão teve que importar seu técnico: Alberto Zaccheroni é italiano de nascimento (Foto: Getty Images)
Confira os 23 convocados e a numeração fixa da seleção japonesa para a Copa do Mundo de 2014:

Goleiros
1 - Eiji Kawashima (Standard Liège / Bélgica) - 31 anos
12 - Shusaku Nishikawa (Urawa Reds / Japão) - 27 anos
23 - Suichi Gonda (FC Tóquio / Japão) - 25 anos

Defensores
2 - Atsuto Uchida (Schalke 04 / Alemanha) - 26 anos
3 - Gotoku Sakai* (Stuttgart / Alemanha) - 23 anos
5 - Yuto Nagatomo (Internazionale / Itália) - 27 anos
6 - Masato Morishige (FC Tóquio / Japão) - 27 anos
15 - Yasuyuki Konno (Gamba Osaka / Japão) - 31 anos
19 - Masahiko Inoha (Júbilo Iwata / Japão) - 28 anos
21 - Hiroki Sakai* (Hannover / Alemanha) - 24 anos
22 - Maya Yoshida (Sunderland / Inglaterra) - 25 anos

* Por incrível que possa parecer, eles não são irmãos.

Meias
4 - Keisuke Honda (Milan / Itália) - 27 anos
7 - Yasuhito Endo (Gamba Osaka / Japão) - 34 anos
8 - Hiroshi Kiyotake (Nuremberg / Alemanha) - 24 anos
10 - Shinji Kagawa (Manchester United / Inglaterra) - 25 anos
14 - Toshihiro Aoyama (Sanfrecce Hiroshima / Japão) - 28 anos
16 - Hotaru Yamaguchi (Cerezo Osaka / Japão) - 23 anos
17 - Makoto Hasebe (Eintracht Frankfurt / Alemanha) - 30 anos

Atacantes
9 - Shinji Okazaki (Mainz / Alemanha) - 28 anos
11 - Yoichiro Kakitani (Cerezo Osaka / Japão) - 24 anos
13 - Yoshito Okubo (Kawasaki Frontale / Japão) - 31 anos
18 - Yuya Osako (Colônia / Alemanha) - 24 anos
20 - Manabu Saito (Yokohama Marinos / Japão) - 24 anos

Nos últimos amistosos, o Japão teve um aproveitamento deveras satisfatório: em 11 jogos, foram sete vitórias (3 a 0 vs. Guatemala, 3 a 1 vs. Gana, 3 a 2 vs. Bélgica, 4 a 2 vs. Nova Zelândia, 1 a 0 vs. Chipre, 3 a 1 vs. Costa Rica e 4 a 3 vs. Zâmbia), um empate (2 a 2 vs. Holanda) e apenas três derrotas (4 a 2 para o Uruguai, 2 a 0 para a Sérvia e 1 a 0 para a Bielorrússia). O bom rendimento pode fazer o elenco adquirir confiança para as árduas batalhas que virão pela frente.

Provável time: Kawashima; Uchida, Yoshida, Konno, Nagatomo; Hasebe, Endo, Honda, Kagawa; Okazaki e Osako (Okubo).

Tabela de jogos:
14/06 (Sábado) - 22h - Costa do Marfim x Japão - Arena Pernambuco (Recife-PE)
19/06 (Quinta-feira) - 19h - Japão x Grécia - Arena das Dunas (Natal-RN)
24/06 (Terça-feira) - 17h - Japão x Colômbia - Arena Pantanal (Cuiabá-MT)

Conhecido mundialmente, o personagem Pikachu, do desenho Pokémon, popular nos quatro cantos do planeta, é a mascote do selecionado japonês. Se o seu choque do trovão ajudará os Samurais a derrotar os adversários em terras tupiniquins, isso só a Copa e as bolas na rede nos responderão. Mas bem que as mascotes poderiam ser os jogadores do desenho Super Campeões, outra animação com extrema popularidade. Se você está por fora deste último parágrafo, me desculpe, mas infância você não teve.

Compartilhar no Google Plus

Autor: Luís Francisco Prates

Náutico, Borussia Mönchengladbach e Benfica. Pernambucano, 20 anos, cristão e estudante de Jornalismo.
    comentar com Facebook